Pegou com gestos calmos e lentos na fina e esbranquiçada vela de estearina que tirara do pacote de velas que comprara na véspera no pequeno supermercado do bairro, o 'Super-Ali' do indiano Ali, e levou-a para a cozinha onde cuidadosamente a depositou sobre a mesa como se de um objecto precioso se tratasse. Voltou-se e abriu a porta do armário sob o lava-louça e tirou uma frigideira de fundo anti-aderente que colocou sobre um dos bicos do fogão. Com todo o cuidado colocou a vela na vertical, bem equilibrada e perpendicular, dentro da frigideira. Usando com uma gentileza quase erótica o polegar e o indicador, ajeitou-lhe a pontinha do pavio branco, deixando-a eréctil o mais que conseguiu. Riscou a cabeça vermelha dum fósforo na lixa da caixa de fósforos, o qual explodiu numa chama violenta e viva, e acendeu o fogo gasoso sob a frigideira. Rodou o botão regulador da chama rigorosamente até meio. Não queria queimar nada e a receita devia ser seguida à risca sem omissões ou enganos. Puxou um velho banco de madeira de pinho, levantando-o com o dedo médio enfiado pelo orifício central, e sentou-se a olhar atentamente o processo.
Ali ficou em silêncio a observar placidamente aquela metáfora da morfogénese...
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