quinta-feira, dezembro 30, 2004

BOM ANO NOVO !!!


Um 2005 cheio de Prosperidade, de Realização Pessoal e Profissional, cheio de Felicidade e Saúde, e que seja a Concretização de todos os Vossos Sonhos, são os meus mais sinceros Votos.


FELIZ 2005 !


p.s.: BardaCáca, BardaChicha e BardaPorra para o 2004, para não dizer BardaMerda...

quarta-feira, dezembro 29, 2004

vejo amigos partirem


Nos últimos dias só tenho tido notícias destas.

MALDITO CANCRO !!!

adeus Chico


Soube ontem pelo teu sobrinho Jorge a triste notícia.

ADEUS AMIGO CHICO !

sábado, dezembro 25, 2004

adeus Carlos


Soube hoje pelo meu irmão Júlio a triste notícia.

ADEUS, AMIGO CARRICA !

quarta-feira, dezembro 08, 2004

imagine all the people...


"We're all Christ and we're all Hitler. We are trying to make Christ's message contemporary. We want Christ to win. What would he have done if he had advertisements, T.V., records, films and newspapers? The miracle today is communication. So let's use it."

John Lennon '69

segunda-feira, dezembro 06, 2004

olha a novidade...


24 anos passados, as investigações ao 'acidente' de Camarate provaram aquilo que todos sabíamos desde aquele dia, 04 de Dezembro: Sá Carneiro foi ASSASSINADO!

Olha a novidade...

terça-feira, novembro 30, 2004

Bumba !


Chama-se dar o peido-mestre...

Vejam, mais abaixo, 'Teoria da Conspiração' e 'Teoria da Conspiração 2', de 21 e 23 Julho respectivamente.

quinta-feira, novembro 25, 2004

NOVIDADES


Há NOVIDADES no meu outro blog Rememorar Oeiras !

Porque não ir lá espreitar ? O Link está aqui mesmo ao lado.

Abraços.

quarta-feira, novembro 10, 2004

O peripatético de Pallet


Coitado do Abelardo (1079-1142) !


Ou est la tres sage Helloïs
Pour qui fut chastré et puis moyne
Pierre Esbaillart a Saint Denys?
Pour son amour ot ceste essoyne.
Mais ou sont les neiges d'antan?

Onde está a sensata Heloísa
Por quem foi castrado e depois monge
Pedro Abelardo em S. Dionísio?
Por amor dela teve esta desgraça.
Mas onde estão as neves d'antanho?


É dura, a vida de filósofo... :)

segunda-feira, novembro 08, 2004

CIA



Portugal
International organization participation:

AfDB, AsDB, Australia Group, BIS, CE, CERN, EAPC, EBRD, EIB, EMU, ESA, EU, FAO, IADB, IAEA, IBRD, ICAO, ICC, ICCt, ICFTU, ICRM, IDA, IEA, IFAD, IFC, IFRCS, IHO, ILO, IMF, IMO, Interpol, IOC, IOM, ISO, ITU, LAIA (observer), NAM (guest), NATO, NEA, NSG, OAS (observer), OECD, OPCW, OSCE, PCA, UN, UNCTAD, UNESCO, UNIDO, UNMIK, UNMISET, UPU, WCL, WCO, WEU, WFTU, WHO, WIPO, WMO, WToO, WTrO, ZC

in: http://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/po.html (sem pedido oficial de reprodução; também... ainda não fiz o post e a esta hora já eles sabem que o vou fazer! :) )

Suspeito que eles sabem mais de nós, que o nosso primeiro-ministro...

quinta-feira, outubro 28, 2004

adeus choupo que foste vítima de mentecaptos


1.

Hoje o acordar foi triste.

Eram talvez umas 09:45 quando saí do quarto e entrei no escritório.
Olhei pela janela, em parte para ver como estava o tempo, ultimamente manhoso, mas também para deixar os meus olhos passearem-se pela copa do magnífico e imponente choupo, visível a uns 5 ou 6 metros da minha varanda.

Um pormenor de imediato captou a minha atenção: um preto empoleirado num ramo, de serrote em punho, serrava furiosamente algumas grossas ramadas à sua volta.
No entorpecimento matinal, ocorreu-me ingenuamente que a Câmara, receosa de potenciais acidentes, ou avisada da iminência de algum, tivesse decidido podar algumas ramadas de natureza mais instável.

Achei bem.
Há que zelar pela segurança de pessoas e bens.
Há que acautelar, antes, para não ter depois que 'reparar o irreparável'.

Sentei-me na cadeira e concentrei-me no ecrã do computador.
Havia muito trabalho para fazer.
Muitas ilustrações para desenhar.
Assim se passou talvez uma ou duas horas.
Concentrado, como é meu hábito, desligado de tudo o que me rodeava, não assisti, felizmente, ao crime hediondo e inqualificável que estava a ser perpetrado.

Fui para ele despertado pelo grito de horror de minha esposa, que entretanto entrara no escritório:
— Destruíram o nosso choupo!
Olhei para a janela e fiquei horrorizado, completamente estarrecido.
Da frondosa e imensa copa, refúgio de centenas de pardais e outra passarada, já nada existia.

Via-se apenas a ponta serrada, partida, triste e ferida do tronco, projectando-se deste os cepos selvaticamente rachados do que antes foram grossos ramos e compridas ramadas, que sustentavam como braços de gigante aquela copa imensa que murmurava no silêncio da noite, que dançava na brisa fresca, que tantas vezes me embalara em noites de insónia.

É indescritível, é inefável, o som do murmúrio daqueles milhares de folhinhas a roçagarem umas nas outras no silêncio lunar.
Não tenho palavras para descrever o profundo, sublime, sentimento de prazer provocado por essa sinfonia, que era o ciciar das folhas acompanhado pelo pipilar cúmplice da passarada.
Quantas vezes, à noite na cama, me deliciei a ouvir esse autêntico concerto de jazz consubstanciado no swing das vibrações do ar, que vindas do choupo me entravam pelo quarto dentro e se espraiavam por cima da cama como um suave véu de seda macia, que me adormecia na convicção da transcendência.


2.

Quando saí de casa para ir almoçar, tive oportunidade de falar com algumas pessoas, sendo que a primeira foi uma engenheira florestal da Câmara Municipal de Oeiras, assim se identificou, que tinha sido alertada por um munícipe e estava a procurar averiguar de quem partira a ideia daquela barbárie.
Pouco tempo passado, disse-me, sem o garantir, que a acção parecia ter partido da própria Câmara, por razão de um qualquer projecto de acesso pedonal com rampa para deficientes, a construir naquele mesmo local.

É de louvar a preocupação com a melhoria das acessibilidades, mas quem conhece o local não acredita de modo algum na impossibilidade de desenhar uma solução capaz de poupar a vida a tal árvore, cujas características a tornavam indubitavelmente Património Natural do Concelho.

Uma outra senhora com que falei referiu-me que morava ali há cerca de 30 anos e lembrava-se de sempre ter visto ali a árvore.
Um senhor disse-me da dificuldade de uma mãe ou avô, não recordo bem, que passava, explicar à criancinha com quem ia e que a questionara, o que estava a acontecer e porque razão aqueles homens estavam a fazer aquilo à árvore.
Mais duas ou três pessoas com quem também falei mostraram-se escandalizadas com o acontecido.
O léxico utilizado pelas pessoas contemplava, em regra: crime, barbaridade, selvajaria, hediondo, etc.
O sentimento geral dos munícipes pareceu-me de revolta e indignação.

Para dar uma ideia da dimensão da citada árvore refiro que moro num 2.º andar e a minha varanda ficava abaixo do meio da copa.
Tanto quanto recordo, e tenho ainda documentado com 2 fotografias, a árvore atingia no seu ponto mais alto quase o 5.º andar do meu prédio.
Refiro ainda que o ponto de implantação da árvore não era ao nível do prédio, mas mais abaixo, cerca de uns 2,5 m., pois daquele lado existe um pequeno talude.
Isto tudo somado dava ao choupo uma altura estimada de cerca de 15 a 20 m.


3.

Onde estava um choupo, que nos dava qualidade de vida, agora vamos ter ferro e cimento...

Onde estava um choupo cuja copa nos dava privacidade, agora temos as janelas dos vizinhos...

Onde estava um choupo que era uma barreira natural contra o vento agora vamos ter a ventania...

Onde estava um choupo que era um 'planeta' carregado de vida vegetal e animal, numa miríade de microorganismos e de pequenos seres vivos que nele tinham o seu habitat, o seu ecossistema, ou parte dele, e que com a árvore inter-agiam num processo vital de simbioses e cadeias alimentares multifacetadas e riquíssimas, agora vamos ter...


4.

Enquanto escrevo isto, sentado frente ao computador, no mesmo sítio de sempre, olho para a direita através da janela e sinto um aperto na garganta. Há algo que me estrangula e falta-me o ar!

p.s.: Este texto encontra-se também publicado no meu blog Rememorar Oeiras. Pela relevância do acontecido achei por bem publicá-lo nos dois locais.

domingo, outubro 24, 2004

coleccionava singularidades


Coleccionava singularidades.
Começara ainda miúdo com um pequeno fóssil de turritela (1) que encontrara numa escarpa rochosa da praia onde passava as quentes e doces férias de verão.
Apanhou-o do chão com os seus pequenos dedos, rolou-o e observou-o com atenção fascinada. Uma pequena rosca de rocha dura. Cem milhões de anos na ponta dos seus dedos juvenis. Um frémito percorreu o seu corpo. Um tiranossaurus rex rugiu ao longe. Apertou a pequena rocha fusiforme na palma da mão e forçou as pernas a moverem-se. Era difícil mover os pés, mergulhados no lodo cretáceo. Mas conseguiu. E caminhou seguro sobre a areia quente da praia, sob o sol escaldante e inclemente, até ao chapéu de sol onde a família estava abancada.
Quando as férias terminaram levou para casa aquele objecto precioso, aquele tesouro singular, e guardou-o bem guardado no seu quarto. O tempo passou e regularmente pegava no objecto e observava-o com paixão e fascínio, pensando "onde este estava há mais e vou recolhê-los!"
E recolheu. Mais turritelas. Não só naquele local mas em muitos outros onde as encontrava. Não só turritelas mas tudo quanto fosse fóssil, pedra curiosa, cristal, pedaço de madeira, objecto curioso, singularidade...
Por todo o lado, em casa, no sotão, na arrecadação, nas gavetas, sobre os móveis, em caixas velhas de cartão, aqui e ali, havia objectos da sua colecção.
Mas sentia-a sempre incompleta. Não conseguia considerá-la terminada, completa e finita. Sentia que 'cabia sempre mais um'. Havia sempre mais um objecto a acrescentar. Aparecia. Encontrava-o. Achava-o. Não o podia desperdiçar e deixar a colecção incompleta! Assim, juntava, juntava, juntava...

O miúdo tinha crescido. Fizera-se homem adulto. E a colecção crescera desmesuradamente. A maioria dos objectos, para os outros, era apenas 'tralha'. Não tinham valor nenhum. Quanto muito haveria um ou outro mais 'giro' ou 'curioso'. Apenas isso. Mas para ele era bem diferente. Eram valiosíssimos. Eram a Sua Colecção! E valiam pela singularidade. Não se conseguia desfazer deles, de nenhum deles. Não conseguia sequer imaginar-se sem eles.
Sonhara um dia organizá-los numa espécie de mini-museu caseiro. Organizados e dispostos em belas prateleiras de vidro, iluminados com arte e com pequenas etiquetas identificadoras. Mas via cada vez mais longínquo esse sonho. Razões económicas, já se vê. O que não o impedia de continuar a coleccionar. A colecção infinita.
Por vezes olhava um ou outro objecto da sua colecção, que descobria ao abrir uma gaveta ou a porta de um móvel. Uma velha lupa de vidro da qual sobrara o aro e a lente e desaparecera a pega ou um pequeno canivete suiço ao qual faltava o palito, a sua primeira máquina fotográfica para a qual já não havia rolos, um dente de cavalo achado na praia e metido numa caixinha plástica com um algodão no fundo, a ocular da máquina fotográfica que se avariara, desmontara e 'lixara', o passe de estudante da CP de Oeiras a Cascais com o velho bilhete mensal de 47$50, uma lente de óculos com função de godé suja de gouache, uma lanterna que há anos não funcionava, um isqueiro a gasolina trucidado por um carro e todo amachucado, uma pequena válvula de combustível de um avião T7, parafusos, porcas, pedras, conchas, pedaços disto, pedaços daquilo, pedaços de tudo e pedaços de nada, porções, completudes, singularidades..., e pensava "para que quero eu esta merda?" Mas não conseguia deitar o objecto fora. Sentia-o como único no cosmos. Podia haver muitos parecidos, mas nenhum rigorosamente igual. O que o tornava singular. E lhe dava um valor inestimável. E lá voltava o objecto para a gaveta ou caixa de onde tinha saído.
Chegou a pensar em organizar os objectos em colecções temáticas: moedas, selos, postais, fósseis, fotografias, rochas, búzios e conchas, desenhos, navalhas, livros, miniaturas, isqueiros, óculos, canetas... Uma Colecção de Colecções! Mas não funcionou. Apareciam sempre novos objectos a abrir novas rubricas e outros que 'voavam' de rubrica em rubrica. A carteira profissional da avó ou a certidão de nascimento do pai entravam na rubrica 'documentos', na rubrica 'história', na 'família' ou em 'testemunhos do período fascista'? Que confusão!
Assim continuou, como sempre. A juntar. Juntando, juntando, juntando...

Coleccionava singularidades.

(1) - TURRITELLA - PALEONT. Foi Lamarck quem, pela 1.ª vez, em 1799, designou este gén. de animais marinhos por este nome. A concha é cónica, alongada, com muitas espiras bem individualizadas; ornamentação formada por cordões longitudinais, tornando-se granulosa nos ambientes salobres; durante o crescimento de cada indivíduo os caracteres ornamentais modificam-se; este facto permite reconstruir as afinidades inter-específicas. Abertura holóstoma, oval ou arredondada. Os animais do gén. T. apareceram no Cretácico, tiveram a maior expansão no Terciário e chegaram à actualidade, sendo vulgares nas praias portuguesas. Os fósseis são extraordinariamente abundantes em certos sedimentos miocénicos de Portugal, apresentando formas muito grandes.
in Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Verbo, V. 18, p.277

2001, Oeiras

domingo, outubro 17, 2004

ocaso


nota: esta estória foi escrita em 2002 e é um bocadinho grande, mas tenho um especial carinho por ela (os meus amigos vão perceber porquê; basta recuarem a 1995...), e decidi deixá-la aqui, sem a alterar excepto num ou outro acento que 'fugiu'.


Eram talvez sete horas da manhã. O trânsito estava uma merda como de costume!
O previsível dia de calor enchia a rua de carros repletos de marmanjada que se dirigia que nem carneiros para as praias das redondezas, para além dos desgraçados que iam trabalhar, porque não estavam de férias. Toneladas de carne gorda e balofa, mal passada, a caminho da Caparica e da Fonte da Telha. A ponte começava a encher. Os acessos já o estavam. Mas não era para aí que eu me dirigia apesar de seguir na mesma direcção. Simplesmente, via agora, tomara uma decisão errada em pretender ir primeiro a Lisboa. O volks, no meio da multidão, gemia que nem uma carroça. Mas mantinha-se impecável ou não fosse um volks. Eu é que começava a ferver e não era da temperatura que subia rapidamente. Só havia uma coisa a fazer. Saí da autoestrada na primeira saída que apareceu, para vias mais calmas e desimpedidas. Fiz a inversão de marcha e voltei à autoestrada, desta feita em sentido contrário. Claro que quase não existia movimento. O volks cantou contente e acelerou. Sentia-se valente com certeza. Estava eufórico. Tive que o agarrar com força para que não me escapasse das mãos.

Acendi um éssegê e colocando o cotovelo esquerdo na janela aberta dei uma longa baforada espreguiçando o corpo, dentro do possível a quem vai a conduzir. Não demorei a chegar onde queria. Procurei estacionamento, o que não foi muito difícil. Eu sabia onde estavam os carros! Desliguei o motor, fechei a janela. Saí do volks, fechei a porta e tranquei-a. Dirigi-me ao enorme edifício de vidro e metal e cruzei as portas de vidro, que se abriram à minha aproximação. Com um sussurro, fecharam-se nas minhas costas, enquanto eu me dirigia ao elevador. Carreguei no botão de chamada. Para subir. Segura na mão direita levava a enorme pasta negra dentro da qual, bem protegida, seguia a maqueta para o cartaz polícromo, que tanto trabalho dera a executar. E a conceber. Esperava uma aprovação sem problemas.

O elevador parou com um plim e a porta abriu-se à minha frente. Afastei-me pois de dentro dele saiu um cão todo lampeiro. Dei-lhe os bons-dias quando passou pela minha frente. Armou-se em importante e não respondeu. Um cão de raça com aspecto de bem tratado. Não era nenhum rafeiro vadio. Tinha uma dimensão média. Dava-me pelo meio da coxa. Não sou muito alto. Bem, nem muito nem pouco. Também sou médio. O cão era castanho, com o pêlo impecavelmente cuidado. Saiu do elevador rapidamente em direcção à entrada principal. O seu corpo accionou o dispositivo automático e as portas abriram-se à sua passagem. Entrei no elevador observando a minha imagem reflectir-se nos inevitáveis espelhos. A porta fechou-se atrás de mim. Pressionei a tecla do andar pretendido e aguardei. O elevador começou o seu movimento rápida e suavemente. Com um pequeno solavanco e um plim imobilizou-se. Empurrei a porta e saí, sempre segurando a minha pasta negra.

O vento frio fez-me estremecer. Era um daqueles ventos gelados de inverno que parecem querer cortar-nos as orelhas. A luz em que eu estava mergulhado fazia também recordar o mais rigoroso dos invernos. Olhei para trás. O elevador tinha desaparecido. No lugar onde se deveria ver a porta nem parede havia. Olhei em redor. O compartimento, de três paredes, não era muito grande. As paredes, de madeira, faziam lembrar o interior de uma barraca tipo T0 da Buraca. Estava vazio. Vazio, vazio, não. A um canto divisava-se, enrolado sobre si mesmo, um gato cinzento mal encarado à brava. Estava sujíssimo e carregado de marcas de muitas batalhas. Movi-me, para passar o peso de uma perna para a outra e os meus sapatos fizeram barulho, rilhando a gravilha no piso de cimento cinzento, rival das paredes em sujidade. O gato levantou a cabeça e olhou para mim. No lugar do olho esquerdo, um enorme buraco preto, sujo de sangue ressequido, fitava-me. Miou. Levantou-se. Espreguiçou-se. Miou. Deitou-se. Enroscou-se de novo e fechou o único olho. Provavelmente adormeceu. Virei-lhe as costas. Continuava a segurar a minha pastosa.

À minha frente, um comprido cais de madeira avançava pelo mar dentro. Não lhe via o fim. Perdia-se no nevoeiro. Segurei com mais força a alça da pasta. Um pouco aquém do cais e a um dos lados um velho, vestido com um fato de palhaço e uma horrível gravata bege, estava sentado numa cadeira de praia. Uma cadeira de lona queimada pelo sol, sobre um quadrado de alcatifa azul-escura. Dirigi-me a ele com cuidado, procurando não pisar nenhum dos lagartos verdes que se espreguiçavam na alcatifa. Cumprimentámo-nos. Abri a pasta e tirei para fora o trabalho. Claro que o aprovou sem qualquer discussão ou hesitação. Despedimo-nos e afastei-me dele.

Avancei para o cais. As travessas de madeira, húmidas, envelhecidas pelo tempo, gemiam sob os meus pés a cada passo que dava. Passos lentos mas seguros. Embrenhei-me na neblina. Olhei ao meu redor. Além do branco daquele manto que me envolvia nada mais estava ao meu alcance. Atingi o fim do cais. Terminava numa parede de tijolo vermelho, assim como o mar. Este, ondulante beijava suavemente a parede, num lascivo sobe e desce. Olhei em frente. Exactamente onde o pontal de madeira penetrava a parede, uma porta de elevador. Carreguei o botão de chamada, que se iluminou de imediato. Esperei pouco.

De novo com um plim, o elevador surgiu. Abri a porta e entrei. Os mesmos espelhos. Pressionei o botão correspondente ao rés-do-chão e o elevador arrancou, num sussurro. Olhei para a minha mão. Firmemente segurava a pasta. Suavemente, o elevador desacelerou e imobilizou-se na saída. Abri a porta e saí. Tive de me desviar pois o cão castanho dirigia-se ao elevador no qual entrou. Deu-me as boas-tardes ao passar por mim. Armei em importante e não lhe respondi. Ouvi o elevador arrancar. Dirigi-me à saída do prédio. As portas de vidro abriram-se à minha passagem. O calor tórrido da rua envolveu-me. Soprei. O meu volks estava no mesmo sítio. Caminhei até ele, abri a porta e atirei a pasta para cima do banco traseiro. Entrei. Baixei o vidro da janela. Coloquei a chave na ignição e pus o motor a trabalhar.

Arranquei. Tomei o caminho da marginal. Eram talvez cinco da tarde e eu sem almoçar. Dirigi-me à esplanada do costume, junto à praia. Lá sempre poderia comer uma sandes ou um cachorro acompanhado de uma cola, porque almoçar a esta hora já não valia a pena.
Estacionei o volks e fui comer o tal cachorro com vista para o mar. Eram quatro da manhã quando fui para casa.

quinta-feira, outubro 14, 2004

mosca


A sala estava mergulhada numa semi-obscuridade outonal de fim de tarde, a escorrer líquida pelas paredes rugosas do apartamento suburbano.
Era um daqueles dias de Outubro em que se começa a sentir o cheiro da chuva e o odor do vento nas folhas tropeçadas da berma da estrada.
Tinha-se abandonado nas almofadas do sofá, como um boneco de trapos displicente.
O cachorro dormitava ao seu lado, num claro sinal abusador de bicho que se sabe protegido e apaparicado.
Estava de tal forma distraído, de olhos pregados no reallity-show, telecomando adormecido na mão, que não se apercebeu de nada.

A mosquita aproximou-se da sua cabeça, volteou duas ou três vezes no ar e rapidamente entrou-lhe por um ouvido. Casualmente o esquerdo. Para ela era indiferente.
Deu umas quantas voltas esvoaçando na escuridão opressiva do interior do crâneo, batendo assustada contra as duras paredes deste, e saiu pelo outro ouvido, tocando ligeiramente com a ponta da asa num naco de cerume e afastando-se rapidamente na direcção da cozinha e do apelativo caixote do lixo.

O cachorro emitiu um pequeno gemido, sinal de que sonhava.

terça-feira, outubro 12, 2004

comentando um... cu-mentário


O comentário citado está no post abaixo deste e que tem por título "sebo e choco".

cito:
Meu Deus, o neo-realismo regressou a este pais miserável? Dei uma vista de olhos pelo seu blogue, que em termos gerais achei pomposo, petulante a banal. Não há nada que me aborreça mais do que os lugares-comuns de um filósofo suburbano. Quanto a esta história, que posso dizer? Se lhe juntar mais duzentas páginas, talvez seja publicado pela Oficina do Livro, ao lado da Rebelo Pinto e de outro desconhecido tão ilustre como você.

Os meus relutantes cumprimentos,

Vermeer33

--
Posted by madre to caracol carolas at 10/11/2004 07:05:52 PM


Pois...
Vermeer, pela sua conversa, duvido que volte cá e que leia isto, mas:

'Madre' !?
Será a 'madre' Teresa? Não acredito. O coração dela era muito mais infinito e tolerante que o seu.
E menos 'fascizóide', imagine!

O seu discurso soa-me a conversa de fêmea comuna ressabiada com foice a mais e martelo a menos ou então de paneleiro não assumido (talvez você seja psiquiatra ou ministro). Desculpe s'ofendi...

Pois é, meu caro Vermeer33 (quem quer que seja, que se esconde num cobarde anonimato).
Não me surpreende o regresso do neo-realismo a este país miserável (eu gosto mais de dizer 'país de merda'). É em países assim que ele busca a matéria-prima de que se alimenta. E Portugal é um cadinho de eleição para explorar. Afinal, é um país de 'imbecis governado por incompetentes".
Agora, eu ser neo-realista!? Ah, ah, ah! Não percebeu nada, seu estúpido! (sem ofensa.)

No resto, não me revejo na crítica. Acho-a espúria. Apenas acho que se está aborrecido, tem bom remédio: FUCK YOU, HASS HOLE!

Quanto à sua sugestão de publicação, até que me parece interessante (agradeço). Ainda não tinha pensado nisso. Era uma forma de resolver os meus problemas económicos. Se tiver o contacto, mande-mo, S.F.F. Vê-se por aí tanta gente a ganhar dinheiro escrevendo as maiores merdas, porque não hei-de eu aproveitar a onda? Eu sei porquê. Porque sou estúpido.

Sem relutância alguma, melhores cumprimentos,

josé antónio (ne-realista, pomposo, petulante, banal e filósofo suburbano — according to Vermeer33.)

sábado, outubro 09, 2004

sebo e choco


Tentou por todos os meios convencê-lo. Afinal estavam juntos já há tanto tempo, cerca de duas semanas, que até parecia mal não o fazerem. Todos os vizinhos das barracas à volta o faziam, que as vizinhas bem lhe contavam. Contavam-lhe e perguntavam-lhe como era com ela e o gajo. Começou até a sentir vergonha!

Insinuou-se de todas as formas e feitios. Cozinhou-lhe os petiscos que ele adorava para o seduzir, mas não houve meio. Cozinhou-lhe, é uma maneira de dizer. Mandava os putos roubarem latas de polvo de caldeirada ou atum de escabeche no Pingo Doce. Afinal, é para isso que uma gaja tem filhos, para sustentarem a família.
Mesmo à noite, após a janta, depois de ele já ter bebido duas garrafas de vinho, mesmo quando ele demonstrava uma forte apetência e excitação, mesmo quando consumavam o acto, nada.

Chegou até a lavar-se. Tirou as badalhocas do cu, pensava que fosse por isso. Gastou quase meia barra de sabão-macaco para se esfregar, mas não. Nem assim o convenceu.
E ela sabia que ele tinha razão.

Porque, depois da lavagem, passou a mão e sentiu a razão da queixa dele para se recusar a praticá-lo. Ela tinha efectivamente aquele típico cheiro a sebo retardado misturado com cheiro a choco frito entranhado nas virilhas.
Desistiu. E um dia morreu. Sem nunca ter conhecido o prazer do cunnilingus!

Talvez por nunca se ter cruzado com um tipo, que não conheço, mas de quem um amigo meu me falava há dias...

terça-feira, outubro 05, 2004

ciao bambino


Soube hoje pelos noticiários, como tanta gente, que o Carlos Carvalhas vai deixar o cargo de Secretário-Geral do PCP.

Não é nada que não se esperasse já. A contestação era grande. E não só dos 'corajosos-expulsos' que tiveram a 'ousadia' de apresentar uma moção a pedir um congresso extraordinário. Sentia-se essa desilusão e contestação no discurso do comum militante, simpatizante, apoiante, ou mero amigo do partido.

Apenas escrevo para dizer que vejo uma grande maioria, comovida mas optimista, a acenar os lenços brancos, ao mesmo tempo que entoa "ciao, ciao bambino"... e uma pequeníssima minoria fungosa, de tacha arreganhada, a cantar "tenho uma lágrima no canto do olho, tenho uma lágrima no canto do olho"...

LIVRAI-VOS DE CUSPIR CONTRA O VENTO (ZARATUSTRA)

segunda-feira, outubro 04, 2004

amigos, amigos...


Aquele gajo, ou gaja?, dá-me vómitos.

Se tivesse um amigo assim enchia-lhe aquela tromba paneleira de porrada. Pegava numa cachaporra e arrebentava-lhe com os cornos!

Deve ser por isto que ele não é, nem nunca será, meu amigo... AINDA BEM!!!

a hora


Boas ou más, há horas para tudo e, para cada coisa, a sua hora. E a hora sempre chega.

Sabas tião estava concentrado no seu trabalhinho. De tal forma, que nem deu pelo passar das horas e como a tarde ia avançada. Olhava fixamente o ecrã do computador onde preparava uma prosa para sair, por algum lado, no dia seguinte. Os seus olhos pareciam duas esferas globulares de gelo duro, imóveis e brilhantes. As suas mãos sapudas corriam o teclado velozmente, como ratos num celeiro cheio de sacos de cereal.
Ao seu lado, as suas duas navalheiras de estimação dançavam uma versão pós-moderna d'o lago dos cisnes, dentro do enorme aquário de acrílico rosa-pálido. Enquanto isso, sentada numa espreguiçadeira a um canto, uma gigantesca carocha argentina mulata, tanguista, bordava a ponto-cruz uma bela reprodução do busto da república, checa. E a tarde continuava a avançar e sabas tião a tricotar.
Repentinamente, despertou daquela espécie de hipnose fixista. Sentiu algo de indefinido que o fez parar e encostar-se para trás na cadeira e retirar as mãos do teclado. Era como uma febre, mas sem temperatura. Ou como umas cócegas, mas sem comichão. Olhou o tecto, sujo de cagadelas de mosca, do vinagre, na esperança de conseguir perceber o que o tinha acordado da sua importantemente inútil tarefa. Procurou sentir o seu próprio corpo. Não, não sentia nada de estranho, nenhuma dor nem nada assim. Mergulhou na memória. Não, nada emergia, nenhuma lembrança, nada programado para fazer. Que raio lhe teria acontecido?
Então, um ataque de tremuras acometeu-o, e começou a tremer violenta e descontroladamente como um picapau epiléptico. Deu um grito terrível que assustou as passageiras do autocarro, que saltaram pelas janelas, levantou-se num rápido pulo, e desatou a correr desenfreadamente, dando enormes saltos como um gafanhoto histérico. Entrou desabrido pelo snack-bar adentro, parou ao balcão, respirou fundo três vezes, e pediu... pediu uma bola de berlim com creme, que devorou em duas dentadas.

Tinha chegado a hora da bola de berlim com creme!

quarta-feira, setembro 29, 2004

finalmente, a paz...


Hoje recebi uma chamada da minha mulher, dizendo que já tinham saído as colocações, e pedindo-me para consultar o site na net.
De imediato, assim fiz, claro! Telefonei-lhe e informei-a do resultado, positivo, da consulta.

Senti que uma nuvem de ansiedade, stress e preocupação, que durava há vários meses, se dissipava soprada para longe pelos ventos da bonança.
A paz instalou-se cá em casa (acho que até o gato deu por isso).

Até ao próximo ano...

segunda-feira, setembro 27, 2004

cicuta com acompanhamento à guitarra


O PS o quê? Ganhou quem? Onde raio pus o frasco de cicuta que 'inda agora tinha aqui?

oh guitarra, guitarrinha,
oh guitarrra, aquece aquece,
oh guitarra, guitarrinha,
que o ppd agradece.

«Entities should not be multiplied unnecessarily.» William of Occam, "Quodlibeta Septem"

sexta-feira, setembro 24, 2004

apetece-me matar alguém...


Sou rigorosamente contra a pena de morte. Acredito num direito inalienável à VIDA.
Mas também sei que existem criminosos 'inviáveis' (a sua recuperação é impossível; p.ex. os psicopatas). Deixá-los à solta nem pensar. Quanto ao perdão, este também tem limite...
Por isso, proponho em alternativa à pena de morte a prisão perpétua. Eu sei, somos nós que pagamos... mas temos que assumir a nossa própria natureza e civilização; a nosssa moral/ética; não se paga um crime com outro crime.
Contudo, há alturas em que a emoção esmaga a razão.
A provar-se que aqueles dois, de facto mataram a garota por uns trocos...

Confesso: A minha vontade era estrangulá-los com as minhas próprias mãos!
Isto se sobrevivessem, depois de os ter escortanhado com uma navalha de barbear, regado com gasolina, puxado fogo, espezinhado com uma manada de Miuras (bois de 600Kg.) em fúria, arrancado os olhos com um anzol de pesca ao espadarte, obrigado a engolir um kg. de pioneses, e etc. (aceitam-se sugestões)...

"O coração tem razões que a razão desconhece."

quarta-feira, setembro 22, 2004

semana PUTA...


Faz tempo que não passo por aqui.
É que de vez em quando o trabalho aperta, e o tempo escapa-se por entre os dedos como água pelo ralo do lavatório.
E nestes últimos dias têm sido tantas as questões a pedir um post...

Só para citar aquelas que melhor recordo:

dia 11
Uma familiar minha, em passeio no norte, sofreu uma queda, tendo sido transportada ao hospital de Braga.
Até aqui tudo bem, não fora tratar-se de pessoa que sofre de osteoporose, diabetes, tem uma prótese de anca, não tem vesícula, tem colesterol elevado, sofre de obesidade e mais algumas coisitas, além de ter 68 anos de idade.
A queda foi violenta, de costas e de uma altura de cerca de 1,5m., o sangue era abundante, as queixas eram muitas, e no hospital a única coisa que fizeram foi coser a cabeça, 10 pontos, e fazer 2 ou 3 rx ao tronco, em que não detectaram nada; nem um rx ao crâneo fizeram — estou a falar de uma pessoa de certa idade e com osteoporose e diabetes, caramba!
Regressada, 2 dias depois deslocou-se ao hospital do SAMS em Lisboa, onde o médico 'analisou' as radiografias, fez apalpação do tronco e também não detectou nada!
1 semana passou e não havia melhoras. Numa deslocação à médica dela, esta escandalizou-se com a ausência de rx ao crâneo, e apelidou os colegas de 'cegos', visto que num simples olhar das radiografias imediatamente detectou 2 costelas partidas, e a hipótese de mais uma ou outra numa zona escura!
2 hospitais, 3 médicos, uma catrefada de medicamentos desadequados, 1 semana de sofrimento...

dia 16
Faleceu o pai de um amigo meu. À medida que a idade vai passando, estas coisas vão-se tornando cada vez mais frequentes. Coisas assim já aconteceram a todos nós, certamente.
Mas este não foi um caso qualquer. Era o pai de um amigo especial e, por isso, era um pai especial. Era alguém por quem eu tinha um certo carinho.
Os problemas de saúde duravam há alguns anos, operações, transfusões, etc., e eu esperava um dia destes conseguir visitá-lo na casa dele para lhe dar um abraço. Nunca surgiu a oportunidade. Fica aqui o meu abraço ao Mário Peres.

dia 20
Deviam ter saído as listas com as colocações dos professores. Não saíram. E só Deus sabe a angústia e a dor que tem pairado nesta casa desde esse dia.
Horas e horas em frente ao computador a tentar entrar no site — a entrar sim, mas pela madrugada dentro — e aquela maldita mensagem 'devido ao elevado número de acessos ... impossível, por favor tente mais tarde', ou simplesmente o NADA. O ZERO absoluto. A ausência de informação. A ausência de listas. A presença das incompetências!

Porra, tem sido uma semana PUTA!

sábado, setembro 11, 2004

WTC - 3 anos


Faz hoje exactamente 3 anos.

As torres foram com os porcos e com elas milhares de seres humanos viram chegada a hora do último respirar.

O Bin Laden/Al Qaeda foram acusados (e disseram 'YES! Fomos a gente' lá naquela língua de trapos que eles falam).

O Bush armou-se em cowboy.

Juntaram uma 'posse' para caçar o vilão (a qualquer preço; afinal, tratava-se apenas de VINGANÇA...)

O Afeganistão foi invadido, milhares de civis inocentes foram massacrados. O Bin não foi encontrado.

O Iraque foi invadido, milhares de civis inocentes foram massacrados. O Bin não foi encontrado.

3 anos depois ninguém sabe (ou não quer saber, que a máquina de guerra rende muitos dólares...) onde para o Bin Laden.

Este goza que nem um porco com a estupidez dos yankees (que embandeiraram em arco por terem apanhado o Saddam, que nem tinha nada a ver com o filme.)

Cheira-me que...

Outras 'torres' ainda vão cair.

um homem não é de pau


Há pouco dei comigo a olhar para a chavala e a pensar:
— Foda-se, cada vez gosto menos desta gaja. Só me apetece fodê-la!... :)

domingo, setembro 05, 2004

GAITEIROS 2


Prometi, cumpri, NÃO ME ARREPENDI !!!

Estive lá, e tal como eu esperava, quando começaram a tocar, o mundo esfumou-se à minha volta. Estavam só eles e eu. Aquele som vibrou dentro de mim como o bater dum coração cadenciado a alimentar um espírito sedento de emoções, sensações e paixões. Aisthetiké em estado puro.

Anseio pela próxima oportunidade...

sexta-feira, setembro 03, 2004

GAITEIROS


amanhã, sábado, vou lá estar, ai vou, vou!

vou confirmar alive a emoção e o fascínio que sinto ao ouvi-los em disco.

GAITEIROS DE LISBOA - 19h. Festa do Avante, Quinta da Atalaia, Seixal.

quarta-feira, setembro 01, 2004

back to office, buaaaaa...


Pois é...

Ainda ontem à noite regressei e já 'tou com saudades:

Dos passeios nocturnos e refrescantes no Paseo Maritimo ao longo da playa, acompanhado apenas pelo fretenir das cigarras; do português-suave fumado em noite de pouco sono na Terraza com vista para las estrellas e para el mar; das Ensaladas Mistas, do Choco Frito, das Puntillitas, Chipirones e Boquerones no Simon ou no Nuevo Simon da Punta del Moral; do pôr-do-sol em terras de Portugal por sobre a Marina de Isla Canela, pejada de altivos mastros, a sonharem tocar el viento; das copas de Cerveza às 3 da madrugada no Sugar Reef, frente à ria, com El Faro ao longe, a ver passar as traineiras, e a falar do mar e das correntes que empurram para a solidão; e, sobretudo, do Arroz A Marinera no Chiringuito de Antonio (fundado por um português em 1970). RECOMENDO-O!
Até do anúncio da Coca-Cola Light 'Pitrra, Pitrrae.. Dios Eleva Tu Spiritu' na TV2-Andalucia, repetido ad infinitum pelo Diogo, sinto saudade.

De que lado sopra o vento?

quarta-feira, agosto 18, 2004

Pausa (coffee break)


Pois é...
Chegou finalmente a minha vez. Há 2 anos sem ter férias, dignas do nome, sábados, domingos, feriados, a trabalhar TODOS os dias, às vezes 14 e 15 horas por dia...

Parto dia 20 e espero voltar apenas dia 31 de Agosto. O Mac vai ficar em casa, também ele a repousar (mais ou menos; instruí o Pasoca para ver os mails todos os dias e se houver alguma coisa urgente enviar-me um sms).
Costa Vicentina, Algarve, Andalucia...

Inté!

BALIZA ASSASSINA, PROCURA-SE!


AVISO À POPULAÇÃO:

A pu-li-cia procura 'BALIZA ASSASSINA'!

Tem uma estatura mediana e normalmente veste-se de branco, branco e preto às listas ou cinzento-metálico. Por vezes veste castanho-ferrugem.

Costuma ser vista a rondar recintos desportivos, abandonados pelos proprietários, pelas juntas de freguesia e pelas câmaras municipais.

Esta 'serial killer' é responsável pelo assassinato de vários menores e adolescentes, e tentativas frustradas em diversos outros.

Anda armada, com ferros, e é extremamente perigosa.
Qualquer contacto deve ser evitado, devendo a pu-li-cia ser imediatamente notificada através do tel. 000 (chamada gratuita).

(É inútil apurar responsabilidades. Ninguém as assume...)

domingo, agosto 08, 2004

colturas, ou 'o fado é que induca e o vinho é que instrói'


dizia anteontem, muito animadamente cheia de animação, a animadora do R.C.P.: ... os alemães são os maiores bebedores ... um estudo ... perguntaram ... porque é que bebem as pessoas? ... a maioria respondeu 'para se embebedarem' ... !

português: bebo para apreciar a bebida, fico bêbedo porque bebo!
alemão: bebo para ficar bêbedo...

In vino veritas

terça-feira, agosto 03, 2004

outra segunda-feira...


É como eu sempre digo. As segundas-feiras têm qualquer coisa de sinistro. Por isso, quando ainda tinha carro e conseguia conduzir, nunca viajava à segunda-feira. Sempre guardei a ida para férias, para terça ou quarta, ou qualquer outro dia.
Acho que as segundas são geridas, quiçá todos os dias o são, pela Grande Roda do Destino, por Yin-Yang, por Shiva, Buda, Maomé, ou a Puta-Que-Pariu. E por isso são particularmente atraentes para o azar.
Hoje, para variar, não foi excepção, uma vez mais.

Assisti na SIC, à hora de almoço, à derrocada do prédio de Campo de Ourique. Ao ver aquelas imagens pareceu-me estar a assistir a um '11 de Setembro' à portuguesa! Populares, bombeiros e polícias a correrem pela rua, perseguidos por uma imensa e rápida nuvem a ameaçar tragá-los, como gigante saído dum pesadelo.
As grandes diferenças que notei, além da dimensão do prédio, minúsculo ao lado das out-for-lunch Twin Towers, foram a nuvem do onze ser cinza-betão e esta castanha-alvenaria-mediterrânica-lisboeta; e também o tempo de divulgação do nome do terrorista, que nas gémeas demorou alguns dias, mas que neste caso é antecipadamente conhecido de todos: Pedro Santana Lopes...

"Saber para prever, prever para prover." Augusto Comte

segunda-feira, julho 26, 2004

património oeirense


Acontece-me, por vezes, necessitar de fazer pesquisas na Internet sobre património histórico-cultural diverso, mas também do Concelho de Oeiras.
A razão prende-se com os pedidos habituais da minha esposa, professora de História, no sentido de a auxiliar, quer para preparação de aulas, quer para testes, quer para actividades de tempos livres ou para visitas de estudo.

Ambos habitamos o Concelho de Oeiras há largos anos e estamos familiarizados com o património existente. Contudo, esse conhecimento é de um modo geral, meramente visual e carece de documentação com informação histórica rigorosa e profunda.
Tenho notado como é confrangedora a quase total ausência de informação na Internet sobre o património, vastíssimo, do Concelho de Oeiras. Não falo de grandes trabalhos, de monografias, rigorosa e profundamente elaboradas, mas de sínteses razoáveis que permitam, até a um 'gringo' em simples visita turística, saber alguma coisa sobre o Património existente, o seu enquadramento histórico e a sua localização.
A própria página oficial da Câmara de Oeiras é de uma pobreza lamentável. Não contém, por exemplo, como já vi em muitas páginas de outras câmaras e freguesias, um link intitulado 'Património' e que dê acesso a páginas com essa informação.

Dou um exemplo de um edifício que está referênciado no site da Câmara, com fotografia, mas sem indicação de localização (excepto a morada: Estrada da Torre, o que, até para quem é de Oeiras, é muito vago, pois a estrada começa na estação de comboios de Oeiras e termina na Estrada Marginal quase 2 Km depois...)
Trata-se da Casa do Duque de Wellington. Na página da Câmara surge apenas uma fotografia que pouco diz e a referida morada. Fartei-me de puxar pela memória dos meus quase 35 anos a viver em Oeiras e a minha mulher pela memória dos cerca de 40 anos a viver também aqui, mas nada.
A análise da fotografia, onde é visível ao longe um prédio que me lembrava aqueles da Medrosa, onde vivi, e um muro alto e branco cujo perfil me recordava o quartel do RAC deram-me a intuição se a casa não seria intra-muros no quartel. O qual, aliás, fica na referida estrada.
Alguns dias depois, um familiar, que já tinha entrado no quartel do RAC, confirmou-me a minha intuição inicial, a partir da descrição que lhe fiz da fotografia da net, dizendo-me que tinha lá visto algo semelhante.
Finalmente, e quando a informação se tinha tornado desnecessária porque o trabalho ("Tempos Livres" no Liceu de Oeiras) que fomentara a pesquisa estava já em marcha, a confirmação definitiva surgiu-me num encontro casual com o Dr. Jorge Miranda, investigador de História Local, de quem tenho o privilégio de ser amigo, e que me afirmou o que eu já suspeitava. A casa do Duque é efectivamente no quartel do Regimento de Artilharia de Costa.

Ora uma simples página com informação básica não me teria poupado trabalho, tempo e dores de cabeça (cibernéticas)? Porque não existe uma página desse tipo?
E volto à conversa que tive com o Dr. Jorge Miranda, na qual abordámos também esta questão. Acredito e concordo no que ele diz: "Porque não está feito". Não existe porque nunca ninguém fez, esta é a verdade.
E isto introduz a minha ideia, a qual alimento há algum tempo. A criação de uma tal página. Uma página ou conjunto de páginas que reuna o essencial do Património do Concelho de Oeiras, com uma ou duas fotografias ilustrativas para cada elemento e uma pequena síntese histórica sobre ele.
Lamento a minha vida profissional e outras actividades, como a escrita e o desenho, além de questões relativas à minha saúde, não me deixarem tempo para a elaboração e desenvolvimento de tal página.
Material fotográfico não me faltaria pois reuni ao longo dos anos muitas imagens deste património de que falo, e muito outro seria relativamente simples de conseguir (bastaria ir ao local fotografá-lo); escrever as sínteses também não seria complicado, implicaria apenas alguma pesquisa na documentação existente e publicada; conceber a página seria um desafio interessante para o Designer Gráfico/Ilustrador que sou; enfim, a questão é sobretudo de tempo, Sempre o maldito tempo...
Eu vou fazendo o que posso. Neste sentido coloquei, em Março de 2003, algumas fotografias de Oeiras no grupo de discussão filosófica "Café Filosófico Brasileiro" do qual sou integrante. As fotos estão aqui: http://br.photos.groups.yahoo.com/group/filopopbrasil/

Assim, declaro que abdico dos direitos de autor e deixo aqui esta ideia para alguém com mais tempo e melhores condições que eu, interessado na defesa e divulgação do Património do Concelho de Oeiras, se lançar na aventura cibernética e criar uma página de que todos nós, oeirenses, nos orgulhemos.

ALEA JACTA EST

segunda-feira


Porque razão há tantas segundas-feiras a começar mal?

Será que algum ente transcendente, zeloso do nosso logos, o provoca para nos fazer perceber a realidade das leis de Murphy? Será que afinal Deus existe e eu O ofendi? Ou será que eu fiz mal a alguém!?

Eram pr'aí 9,30h. quando o telemóvel dela tocou. Não o normal toque de despertar, ao qual me tornei insensível, mas o irritantezinho crescendo 'musical' de toque de chamada.
Adoro música clássico-erudita, mas tocada por orquestra sinfónica, e detesto estes toques polifónicos, estas pseudo-músicas, que me ferem a sensibilidade auditiva e me soam a grilos cibernéticos, criados por um qualquer louco dr. Frankenstein da electrónica digital.
Se eu quisesse ouvir grilos comprava uma casa no campo e ia viver para lá. Ou nunca tinha de lá saído.
Sou um tipo simples e acho que um telemóvel é um telefone, e como tal deve soar como um, e não como um brinquedinho de criança.

O toque, ali a um metro e meio do meu ouvido, na mesa-de-cabeceira dela, despertou-me, agrediu-me como uma adaga, um balão de vidro explodiu dentro do meu crânio, tirou-me de um sono que eu pretendera repousante.
Apesar de me ter deitado por volta da 2h., o forno em que este Julho transformara o meu quarto, só me permitiu adormecer lá pelas 5,30h. Como tenho a sorte, ou o azar, de ser profissional liberal e trabalhar em casa, apesar de me irritar um pouco o adormecer tão tarde, isso é compensado pelo levantar também tarde, lá pelas 12/13h., pelo que acabo sempre por conseguir dormir um número de horas aceitável. Mas hoje, segunda-feira, isso não aconteceu.
Depois do toque do telemóvel veio a inabitual e anacrónica voz dela, ao atendê-lo. Normalmente, ela não faz barulho de manhã, ou o pouco que faz, já me habituei a ele, e por isso consigo continuar a dormir. Também não é costume ela atender o telemóvel tão cedo, na cama. Se o faz, fá-lo na sala ou na cozinha, pelo que a voz dela não me perturba o sono. Apenas costumo acordar quando ela me beija, me diz adeus até logo e sai. E mesmo isto apenas por breves instantes, insuficientes para me sacarem completamente dos braços de Morfeu. Em regra, adormeço de imediato. Desta vez, a coisa foi diferente, muito diferente.
O toque, a voz ali mesmo ao meu lado, o teor da conversa que me levou a perceber o que tinha acontecido... Não consegui voltar a adormecer.

Detesto a irresponsabilidade. Detesto quando isso me perturba directamente e interfere nas minhas rotinas e nos meus planos. Detesto quando isso perturba e prejudica a pessoa que amo. O que acontece com uma frequência assustadora.
Quem tão cedo telefonava para ela e nos lixou o sossego que julgo merecido, era a senhora da limpeza. Estava em casa dos pais dela, sem poder entrar para cumprir as tarefas para que fora contratada, pois a porta, que devia estar aberta, estava fechada.
Na véspera, tinhamos lá estado. Ela tinha combinado com o irmão, mora ali muito perto, que este passaria por lá, cedo, antes de ir levar as crianças aonde as costuma levar, para abrir a porta e soltar no quintal a cadelinha, que fica fechada dentro de casa durante a noite. Tinham combinado mas ele não cumprira. Esquecera-se com certeza. Ou então acordara tarde, como de costume, e já não tivera tempo para passar pela casa.
Recordei-me daquele "um ou dois cigarritos" que me cravara na véspera antes de se ir embora. A 'ganza' antes de deitar talvez estivesse na relação causal que provocara ou o esquecimento ou o atraso...
Ela falou com a senhora da limpeza, pediu-lhe para esperar um bocadinho, apressadamente saltou da cama e pôs de lado o seu próprio ritmo, a sua própria rotina, para resolver o problema, como se a irresponsabilidade fosse dela.
Nem teve tempo para se arranjar em condições, e é uma pessoa que o costuma fazer com sensibilidade e gosto. Comeu apressadamente, pegou num saco no qual colocou roupa para se vestir lá em casa, e saiu como um tiro em busca de um táxi, para chegar o mais rápido possível, e assim evitar à mãe, em férias algures, pagar horas-de-espera-sem-trabalhar.

Enquanto ela devorava apressadamente uns flocos, sentada à mesa na cozinha, ainda a tentei chamar à razão e fazê-la perceber que não lhe fazia bem à saúde estar naquela nervoseira e ansiedade, que isso só lhe agravava o stress e os problemas de tensão arterial e colesterol que ela têm, que ela não pode assumir os problemas dos outros como problemas seus, que ajudar os outros é uma coisa e viver os problemas deles como nossos é outra e um erro, porque não, telefonar para o irmão, que talvez estivesse lá perto, e se não estivesse, pelo menos para o chatear para ele perceber que tinha feito merda como de costume... Foi inútil.
Ela saiu e eu... Voltar para a cama não valia a pena. A tensão em que eu próprio acabara por ficar, os adivinhados lençóis quentes da noite, nesta manhã que começa a abrasar, cá dentro ainda estão os mesmos 30° das 3h., sei que me é impossível adormecer. Tenho a segunda-feira lixada. Começou mal a semana.

Às vezes sinto-me tão impotente para a ajudar com a saúde dela.

sexta-feira, julho 23, 2004

teoria da conspiração 2


Dando continuidade à minha teoria da conspiração, uma segunda hipótese se me coloca:

E se tudo isto tiver sido cozinhado, não por quem expus na primeira conspiração, mas apenas pelo sampas (a partir daqui chamado 'cenoura') ele mesmo, e apenas ele, sem intervenção de terceiros?

Passo a explicar. Eu sei que soa um pouco maquiavélico, mas cá vai:

1. O cenoura sabe que a grande ambição e objectivo do putas (a partir daqui chamado 'carapau') é ser pr.

2. O cenoura sabe que o país está de tal forma mal que ninguém o consegue tirar da crise (nem o seu ps).

3. O cenoura sabe que, assim sendo, convocar eleições antecipadas seria queimar o ps.

4. O cenoura sabe que isso daria trunfos ao carapau, e ao psd-pp (para ganharem presidenciais, legislativas, autárquicas e etc.).

5. O cenoura sabe que para o ps ser alternativa credível é necessário mexer no mesmo.

6. O cenoura sabe que para cortar as vazas ao carapau é preciso queimá-lo (e, por extensão, queimar o psd-pp, já de si muito desgastados).

7. O cenoura sabe que o carapau vai ser incompetente como pm e que isso o vai esturricar.

8. O cenoura sabe que não convocando eleições, o ps vai mexer e o boca-de-charroco vai saltar.

9. O cenoura sabe que aceitar o carapau como pm vai queimar este na corrida presidencial.

10. O cenoura sabe que a mexida no ps vai dar a este um candidato credível para as eleições futuras.

11. O cenoura não convoca eleições e aceita o carapau como pm.

12. Com isto ganha 2 batalhas: 1º.: vai queimar o carapau e impedi-lo de se candidatar às presidenciais (ele candidatar-se, até pode, mas fá-lo-á com o peso da merda que vai fazer como pm); por extensão, queima a coligação fascizóide ppd/psd-cds/pp; 2º.: faz o ps mexer, criando uma hipótese de nascer uma alternativa credível ao boca-de-charroco, a pensar nas futuras eleições (curioso o facto deste se ter demitido de imediato após a decisão do cenoura...)

FALLOR ERGO SUM

addenda


ao meu post anterior 'teoria da conspiração':

1. Para compreender a atitude e a opção do sampas, é necessário ter em consideração que, para este, o boca-de-charroco não constitui uma alternativa credível como pm (e provavelmente nem como coisa nenhuma...)

2. O cherne lá foi votado com maioria de votos: Sometimes a majority only means that all the fools are on the
same side.

quarta-feira, julho 21, 2004

teoria da conspiração

A minha TEORIA DA CONSPIRAÇÃO em síntese:

1. O cherne sabia que o governo estava a ser muito contestado.

2. O cherne sabia que a contestação incidia sobretudo nos ministros das finanças e da educação.

3. O cherne sabia que não podia demitir ou rodar esses ministros pois isso seria dar o braço a torcer e dar armas à oposição.

4. O cherne sabia que não podia remodelar o governo pois isso seria desautorizar a sua própria política e dar armas à oposição.

5. O cherne sabia que qualquer dos casos anteriores poderia levar o sampas a dissolver a assembleia e convocar eleições antecipadas, escudado na perda de confiança política.

6. O cherne sabia que em caso de eleições corria sérios riscos de ver os ppd/psd-cds/pp serem substituídos pelo ps no governo.

7. O convite para presidir a comissão caiu-lhe do céu (em boa verdade vos digo: sabe-se lá como...)

8. O cherne COZINHOU com o sampas, o nalgas e o putas uma pseudo-remodelação do governo para iludir o zé.

9. O sampas garantiu ao cherne que se ele aceitasse o convite não haveria eleições antecipadas.

10.O cherne exigiu que nesse caso o pm seria quem ele indicasse para garantir a continuação da sua política; o putas, claro.

11 O sampas deu o ok pá.

12. O cherne indicou o putas para pm.

13 O sampas aceitou, e para se tentar limpar aos olhos da populaça, vetou a reforma educativa.

14. O cherne, a cagar na reforma educativa, aceitou o convite de bróchélas.

15. O governo mudou, em especial os ministros mais contestados, mas a merda é a mesma.

16. Não dou nem 2 anos para que o sampas seja convidado para entrar para o psd (e aceite).

17. Qualquer que seja o resultado amanhã, e como eu gozaria se o cherne viesse de carrinho..., tudo vai ficar na mesma.

NÃO HÁ CU QUE NÃO DÊ TRAQUE!

sexta-feira, julho 16, 2004

Dois poemas de Herr Karl

O Carlos é um amigo cheio de talento que, entre outras aptidões, se dedica à escrita. É para mim um daqueles exemplos de talento, desperdiçado por um país que persiste no mito de que 'massa cinzenta' é aquela coisa feita com cimento, areia e água, óptima para fazer gaiolas urbanas, pontes, viadutos e auto-estradas...
Porque acredito no talento do Carlos, a quem familiarmente apelido de Herr Karl, aqui deixo dois curiosos sonetos de sua autoria. Ói! Há por aí alguém que o queira publicar ou para escrever?

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Quando a nódoa realmente persiste, há que não
Temer as lixívias fortes. Se não sai, e fica,
Há que não temer um branqueador forte, então.
Neoblanc não chega! Como diz aquela rica:

"Mesmo que faça buraco, ou rompa o calção;
O importante é remover a nódoa! Chica:
Doutra forma o seu filho fará buracão
Na mesma! Assim diz a Tia do Benfica!"

Como vê a Tia do Benfica não teme
Os branqueadores! Usa cáustico! Nem treme!
O seu sobrinho é o Pedro Santana Lopes,

É amigo do Presidente e de Portugal,
Nem sequer foi a votos, e branqueia afinal,
O seu nome que para muitos ainda é o Flopes!

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O Miguel Graça Moura ficou sem emprego.
Com razão! Sem tostão há-de ficar mais teso
O País. Veja-se porquê, mas sem apego:
Porque a cultura aqui não tem um peso!

Quando não sei, não invento! Tenho sossego!
Não sou como o popular bem arreveso,
Que bate na cultura e faz estrafego,
Lendo o jornal com o cigarro aceso!

Poupe-se o povo a saber porque lhe falo
No Maestro Graça Moura! Porque deu estalo!
Não no Pedro, não no Santana, não no Lopes,

Porque isso seria ofender quem usa
Esses nomes: mas crendo na cultura lusa:
Escarrem-lhe na cara, e oiçam-lhe o som Flopes!

CARLOS BUENO, 2004

quinta-feira, julho 15, 2004

DIA INTERNACIONAL DO HOMEM

De uma notícia no "Jornal da Região - Oeiras":
'Unhas de Gel para homens modernos'
Com a aproximação do Dia Internacional do Homem (15 de Julho), o The Nail Bar, decidiu oferecer durante todo este mês, 50% de desconto na colocação de unhas de gel, a todos os homens com unhas roídas.

Pronto, Manuel Cherne. Até dia 22 estás à vontade para roeres as unhas...
Depois, qualquer que seja o resultado, é só dares um salto ao TNB que eles até fazem desconto e tudo!

Unhas de gel!? homens!?
Se a moda pega ainda te apanho a pintar as beiças e a rapar os pêlos dos sovacos...

FUADASSE!!!

sábado, julho 10, 2004

para Sampaio

Didáctica inconseguida

Tu nunca viste um homem
subitamente triste
ao descobrir um tesouro ou paraíso
ou alguém com dor no peito
e um gume encostado ao coração
cuspindo riso pela boca
— Entretanto ensino-te caminhos
que não passam pela porta de ninguém
e dizes que sou louco

Arménio Vieira, poemas 1971-1979

segunda-feira, julho 05, 2004

Balanço provisório

vitórias vs. derrotas (um pouco a quente, sem prévia corfirmação dos dados.)

1. Nunca tinhamos organizado um europeu de futebol. Organizámos, e bem. = 1 vitória.
2. Nunca tinhamos chegado a uma meia-final num europeu. Chegámos, com mérito. = 1 vitória.
3. Nunca tinhamos chegado a uma final num europeu. Chegámos, com mérito. = 1 vitória.
4. Nunca tinhamos sido vice-campeões europeus de futebo. Somos, com mérito. = 1 vitória.
5. Em 6 jogos da fase final perdemos 2. Ganhámos 4. = 4 vitórias e 2 derrotas.
6. Desde o Abril de há 30 anos que não sentíamos tanto orgulho em ser portugueses. Sentimos. = 1 vitória.

Vitórias = 9.
Derrotas = 2.

Balanço positivo = 7 VITÓRIAS.

Somos CAMPEÕES !

ATÉ À VITÓRIA FINAL !

ELEIÇÕES, JÁ !

VIVA PORTUGAL !

domingo, julho 04, 2004

TOMATES de Campeões

Falta pouco mais de 1 hora para o tira-teimas! E pouco menos de uma semana para o Sampaio mostrar que os têm!!!

Agora é que vai ser, temos ou não temos TOMATES de Campeões?

ATÉ À VITÓRIA FINAL!!!

ELEIÇÕES JÁ!!!

VIVA PORTUGAL!!!

sábado, julho 03, 2004

VOLTEI !

Ói pessoal.
Desde 29 de Junho até hoje tenho estado ausente desta esfera, por razões que têm a ver com a activação do ADSL, e também com muito trabalho...
Mas voltei. Pronto para as minhas 'bocas' e os vossos comentários. :)
O me me apetece dizer, segue dentro de momentos!

sexta-feira, junho 25, 2004

GANHÁMOS

Acho que nunca tinha gritado GANHÁMOS tão alto na minha vida.

Aquele tiro do Ricardo nunca mais vai sair da minha memória.

VIVA PORTUGAL!!!

segunda-feira, junho 14, 2004

hoje

O amanhã de ontem é o ontem de amanhã.
O ontem não existe. Nunca existiu. O amanhã não existe. Nunca existirá.
Ontem e amanhã são apenas os nomes que damos à barreira que nos separa da eternidade. São apenas uma ilusão. Uma ilusão que inventámos para conseguirmos suportar e conviver com a nossa incompetência. A incompetência que manifestamos em permanecermos na plenitude do tempo sem princípio nem fim. Do tempo sem tempo, que não é tempo.
O tempo não existe. Só existe o presente. Só existe o hoje, o aqui e o agora. E por isso temos que o viver sem pressas e sem atritos ou ressentimentos. Não há para onde ir. Só há o permanecer, o estar e o ser.
Para quê a pressa? Pressa de quê? De chegar ao nada?

sexta-feira, junho 11, 2004

VIVA !!!

VIVA !!! Estou eufórico ! A minha pensão de reforma por invalidez foi AUMENTADA !
Fui agora mesmo ver o meu saldo e lá está, preto no branco, o crédito do CNP com o AL-MIJADO aumento. Querem saber quanto ? 'Tá, eu digo: 4,55 Euros. Isso, QUATRO EUROS E CINQUENTA E CINCO CÊNTIMOS. Nem sei o que hei-de fazer com tanto guito...

Talvez ir à feira de gado comprar uma VACA LEITEIRA.
E depois convido a malta do governo para virem cá fazer o que eles sabem fazer melhor: mamar na teta da vaca...

Não, talvez seja melhor pagar a um Fisioterapeuta, que bem preciso. Como levam p'rai uns 30 euros/hora, e nem é muito, 4,55... deixa-me cá fazer as contas... digamos 5 ... se não me falham os cálculos posso pagar uns 10 minutos de Fisioterapia por mês. Num mês de 4 semanas dá para 2,5 minutos por semana. Bem bom ! Entretanto vou ali à procura duma lâmina de barbear para cortar os pulsos e já volto. Com licença.

terça-feira, junho 08, 2004

elegia

Soube ontem pela manhã. A notícia agrediu-me como uma pedrada, mas sem me surpreender.

A Guida suicidou-se.

Cerca de 36 anos, uma bébe com 3 e, provavelmente um vazio tão infinito que nada era capaz de preencher.
Apenas me ocorreu: a vida é tão insignificante que vale a pena procurar algo pelo qual mereça a pena lutar. A morte é tão certa que apenas basta esperar por ela. Não vale a pena procurá-la, ela acabará por vir, mais cedo ou mais tarde.
A felicidade está dentro de nós. E é no nosso interior que a temos que buscar. Pode ser-se feliz com pouco ou infeliz tendo quase tudo. 'O dinheiro não dá a felicidade mas ajuda' é apenas um mito moderno, uma aldrabice inventada pela burguesia para justificar a luxúria.
É preciso não deixar o vazio crescer e infinitizar-se. É urgente preenchê-lo com algo que dê razão de viver.
Remando contra a maré que é o mundo pós-moderno que com os seus mitos e falsos ídolos insufla o vazio no espírito das pessoas.

A Guida suicidou-se.

terça-feira, maio 25, 2004

alucinação

Quais os critérios que me permitem distinguir uma ilusão duma alucinação?

Julgo-me num café em Oeiras.
Olho à volta e vejo o snack, o balcão, as mesas e as cadeiras, a torneira de imperial, a televisão, o mata-moscas eléctrico, as pessoas que cá estão.
Sobretudo reparo nas pessoas.
Umas bebem, outras mastigam, outra fumam.
Como posso saber que não estou na superfície da Lua e que estas pessoas que vejo não são na verdade selenitas com corpos-e-espíritos-lagosta, que me rodeiam, e que é uma substância que existe na 'atmosfera' lunar que me faz vê-las como seres humanos?
E que me faz ver uma rocha cinzenta como um balcão e outras rochas como uma cadeira em que me sento e uma mesa na qual apoio um caderno/rocha em que escrevo com a caneta/cratera em letras/poeira?
Como posso estar seguro de que amanhã não vou acordar, olhar o meu reflexo na superfície vidrada da rocha fundida pela explosão atómica e ver os meus tentáculos e pinças, rubros do sol, agitarem-se descontrolados e histéricos ante a revelação de que Deus não existe?
Como posso ter a certeza de que a dor no cú, do hemorroidal vitimado pelas azeitonas d'Elvas, não é afinal a pressão das ovas a quererem ejacular um grito de liberdade?
Talvez sejamos apenas umas reles lagostas selenitas na desova e alucinadas, porra!

O que explicaria muita coisa...

anónimo

Estava eu postado em sossego ao balcão do Sólarika, a beber uma fresquíssima imperial, quando de mim se acercou um indivíduo, rapaz novo de olhar acutilante e camisa de manga curta, que trazia estampado no rosto o nome Karl. Não falou, não me dirigiu palavra, apenas colocou à minha frente sobre o balcão uma folha A4 com um texto impresso. Olhei curiosamente o papel e quando olhei para o lado, ele tinha desaparecido.
Senti, após ler o texto, que o mesmo me tinha sido entregue com um objectivo bem definido: a sua divulgação. E se ele merece ser lido...
É esse texto que aquele Karl 'anónimo' me entregou que aqui reproduzo:

Como Começou a Filosofia

Estava Sócrates ensinando no Parténon, representando o papel de sua mãe, e perguntou a todos seus alunos e discípulos: "Como começou a filosofia?" Ao que Nietzsche respondeu: "Foi com Tales, torna-te o que és!" Ora Kant que sabia de matemática, apoiado por Heidegger, sintetizou: "Foi com Tales, e o seu teorema!" Mas Heidegger importuno reivindicou um pequeno áparte a Nietzsche em surdina: "Mas Tales caiu num poço à procura do que considerava ser O Princípio Supremo de Todas as Coisas," O contínuo que apagava a cera do quadro riu-se e, no papel da criada de Tales, comentou: "Nem viu a Verdade à frente dos olhos," Mas Nietzsche que estava Para Além do Bem e do Mal, com seu sorriso de maioral, reiterou: "Torna-te o que és!" Pelo que Sócrates, a quem o saber incomodava, resolveu pô-lo fora da aula; a Kant, que falava em sínteses estéticas, num canto da aula cheio de imaginação, com umas orelhas de burro; e a Heidegger a varrer o chão do estrado, cheio de poeira metafísica, o que não agradou aos outros três alunos: Descartes, Platão e Wittgenstein. Pelo que ao chegar um aluno que se tinha atrasado, se fez coro: "Todos perguntam pela Filosofia, e ei-la! Santo Agostinho!" Sócrates que nutria uma especial ternura pela Cidade de Deus, logo comentou: "A Verdade! A Verdade! Ei-la que chegou!" Mas Descartes sentiu ciúmes e bichanando a Platão e Wittgenstein: "Querem ver que o mandrião ainda nos leva a Sabedoria?" E claro, como ainda não se tinha inventado a realidade virtual, pronta e sideralmente foi projectada a Verdade; Santo Agostinho resolveu explicar o motivo do atraso: "Prendi-me a Roma, sou um romano, que querem? A boneca era bonita, mesmo muito bonita! Ali na montra… Sabem… Compreendem?..." Sócrates raso e quase a chorar acolheu-o no seu manto e enxugou-lhe as lágrimas; segredando-lhe: "Larga essa cambada de maricas; apalpa aqui as mamas e confessa-me mesmo por onde andaste." O que fez aumentar a tensão na aula; Wittgenstein, Descartes e Platão foram escrever métodos de aferição da Verdade; Nietzsche acabou perdido num lupanar, e Kant continuou de castigo, enquanto Santo Agostinho foi salvo por intervenção directa de Sócrates junto do Parténon. Conta-se que nessa noite, à luz das estrelas, Sócrates chorava e Santo Agostinho suava, até porque fazia calor, redescobrindo ambos como começou a filosofia: Sócrates exortando: "Apalpa-me o cú fundo!"; e Santo Agostinho confessando: "Ai que me afogo! Ai que me afogo!"

ass.: Anónimo.

hábito

O homem é um animal de hábitos.
Sobretudo de maus hábitos...
É difícil ganhar os bons hábitos. É fácil perder os bons hábitos. É fácil ganhar os maus hábitos. É difícil perder os maus hábitos.
E será mesmo verdade que o hábito faz o monge? Ou será o monge quem faz o hábito? E quem tem um hábito é necessariamente monge? A ser assim, como o homem é um animal de habitos, o homem é inevitavelmente um monge:

Ele tinha um hábito.
Um tanto ou quanto invulgar, é certo, mas na verdade nada de paranóico ou doentio.
Era um hábito incomum mas inofensivo. Tinha o hábito de arrancar um pêlo que lhe crescia de tempos em tempos no orifício da orelha direita, com as unhas em pinça do médio e do polegar.
Mas não era apenas isto. Fazia-o sempre e imediatamente antes de tomar uma bica. E só antes de tomar uma bica.
O hábito não se estendia a nenhuma outra ocasião diurna, nocturna ou de lusco-fusco. Os elementos comuns eram o pêlo na orelha e a bica.
Onde quer que estivesse, com quem estivesse, quando quer que fosse. E se bebesse 8 bicas num dia fazia-o 8 vezes, uma por cada bica (o pêlo era de crescimento acelerado, efeito da toma de vitaminas soviéticas, reminiscências quinquenais estalinistas...)
O hábito tinha uma importância tão grande no seu equilíbrio psicossomático que começara mesmo a ansiar pelo momento de beber o cafézinho, pelo tremendo prazer que lhe dava o pôr as unhas em pinça, agarrar o pêlo o mais fundo possível e dar-lhe o valente puxão que o fazia sair, esfregar as pontas dos dedos para o soltar no chão e dar o primeiro golinho na escaldante biquéfia.

A kierkegaardiana angústia da espera... A chegada do inefável momento... A doce e infantil antecipação do prazer lúdico... A ligeira dorzinha que sentia quando puxava o pêlo.. O renascido arrepio na espinha que parecia um choque eléctrico... O posterior esfumar da emoção... A ânsia da espera e a certitude de nova ocasião...

Ah, como isso o fazia gozar!

quarta-feira, maio 19, 2004

Oh zé, BEM-VINDO à capital!

O Pedro Saloio Lopes veio à tv dizer que a culpa do BENVINDO é de haver muitos brasileiros e ucranianos a trabalhar em Portugal !!!
E que a grande maioria deles não sabe escrever correctamente o português de Portugal !!!
Brilhante !!! P'ra xenofobia e filha-da-mãezice não 'tá mal não senhor.

A pressa em pôr as coisas 'na rua' e o 'despachamessamerda' não é pr'aqui chamada...
O supervisor que aprova a maqueta do trabalho também não é pr'aqui chamado...
O responsável por acompanhar as saídas e/ou ver a colocação também não...
Muito menos o Director de Arte que gere toda a campanha...

Não... o zé é que tem a culpa, chame-se josé, zé carioca ou josevsky ou outra coisa qualquer, que línguas estrangeiras não são o meu forte...
E ficámos também a saber que o tipo que cometeu o erro (não o 'responsável' por ele, mas o que o 'cometeu'...) vai levar um tabefe.
Ou seja, o zé vai ser despedido.

Oh zé, BEM-VINDO à capital do 'eu não tenho culpa'!

PUTA QUE PARIU !!!

quinta-feira, maio 13, 2004

pedagogia paterna

— Oh paizinho, o que era a pide?
— Meu filho, era um grupo de rapazes que gostavam de jogar à bola com as cabeças dos presos políticos.
— Oh paizinho, o que é um preso político?
— ... É o que te vai acontecer se não paras com a merda das perguntas!

terça-feira, maio 04, 2004

vomitorium...

Hoje apetece-me VOMITAR. Então cá vai:

1. O mundo é uma pívia batida sem convicção (auxiliar para os irmãos de terras de Vera Cruz menos familiarizados com o português-português: pívia = punheta; batida = tocada).
2. Ser português é ter o privilégio de pertencer a um povo de putas, mulas, ratas de sacristia, cabrões, paneleiros, maricas e cobardolas (escolha a sua opção).
3. O governo da nação está entregue a um cóio de palermas, eleito pela palermeira. Cada povo tem o governo que merece. E vice-versa, hé-hé.
4. Às vezes sinto vontade de rebentar com esta merda toda...
5. Penso no estado da nação e apetece-me dizer palavrões, foda-se!
6. É ridícula a ilusão de grandiosidade acreditada pelos portugueses e alimentada pelos sabujos da política e do futebol. Puta que os pariu!
7. Tenho que explodir! BUM !!!
8. Os portugueses vivem numa esquizofrenia-histérica da qual não têm percepção ou consciência.
9. Cheira-me que o Isaltino vai ser outra vez presidente da Câmara de Oeiras (reler o vómito n.º 2).
10. As eleições e os seus resultados são a expressão maior do 'atraso mental' dos portugueses.
11. Os portugueses ADORAVAM que houvesse um atentado da Al-Qaeda em Portugal, para o país aparecer nas manchetes de todo o mundo e sentirem-se importantes e que valem alguma coisa aos olhos dos outros!!! Quem não acredita nisto veja a profusão de e-mails a alertarem para a possibilidade (recebi um que dizia para não bebermos Coca-Cola durante o Euro porque...)

domingo, abril 25, 2004

o pai natal existe.

Claro que acredito na existência do pai natal.
Ele existe mesmo.
O que não entende quem nele não acredita é que ele é um ser polimorfo capaz de assumir as mais diversas formas e aparências e manifestar-se com o aspecto que desejarmos.
Na minha vida sempre me apareceu sob a forma de familiares e amigos. E sempre me deu presentes.

Talvez, precisamente, porque sempre acreditei nele!

portugal, país de pandeleiros.

Humilde contribuição para uma futura "Grande Enciclopédia do Bem Falar e do Bem Escrever a Língua Portuguesa":

Pandela - s. m. (do gr. paneyós, do b-lat. panna ou do lat. pandellum através do cast. pandelò), instrumento musical de sopro e percussão accionado por uma haste grossa, rígida e lubrificada que, por acção do tocador, executa um movimento de vaivém numa espécie de cabaça dupla, através de um orifício habitualmente estreito situado no rego da cabaça.
O som é produzido pelo bater ritmado da haste nas paredes interiores da cabaça, enviado por tubos internos e amplificado por um dispositivo 'labial' que produz ressonância e que emite um som do tipo 'Ai-Úi'.
A amplitude e qualidade sonoras dependem da lubrificação da haste, da qualidade da cabaça, da técnica e da destreza do tocador.

Pandeleiro - s. m. (de Pandela), 1. tocador de Pandela; 2. fabricante de Pandelas; activista ou agente da pandeleirice, do pandeleirismo (V.); 3. sinónimo de ministro.

existência, essência.

Nenhuma tem o primado sobre a outra. Nenhuma precede a outra. Ambas se constituem num esquema de simultaneidade no instante de afirmação do Ser . Ser que não-era e que passa-a-ser. Assim se afirmam o corpo e o espírito. Numa simbiose iniludível e indissolúvel, até à sobreviência da dissolução de ambos no vazio, no nada.

Com o que se desintegra aquele ser particular, contingente.

na minha terra as cotovias são pretas.

Olha um melro.
Não é, é uma cotovia.
É um melro!
Aquilo é preto, as cotovias são cinzentas com pintas escuras. Ah, e não poisam nas árvores.
São pretas!
Só se for na tua terra...
São pretas, porra! As cotovias são pretas. Então eu não sei o que é uma cotovia!?

O sábio aponta para a Lua, o ignorante olha para o dedo.

não tenho que ser inteligente

Eu não tenho que ser inteligente pelos outros.
Bem me basta o esforço para eu próprio ser inteligente.
Penso, apresento as minhas ideias, argumento-as.
Fica ao critério de cada um pensá-las, julgá-las, aceitá-las ou rejeitá-las.

Homines quod volunt credunt (Os homens acreditam naquilo que querem)

devo ser um génio...

Oiço tocar um despertador.
Não fui eu quem o pôs para aquela hora.
Deduzo que foi a outra pessoa.
Vejo que ela não acordou.
Acordo-a eu.

sou um génio certamente!

como diria a minha falecida avó:

"Você" é estrebaria. Eu dava palha e você comia.

quinta-feira, abril 08, 2004

elo perdido...

Quando Darwin morreu e chegou ao pé de Deus, disse-Lhe:

— Olha, só lamento nunca ter encontrado o elo perdido.

Ao que Deus respondeu:

— Pois claro que não encontraste. Não acreditavas verdadeiramente nele. Porque... o elo perdido sou Eu!


"nisi credideritis, non intelligetis."

elogio clitoridiano...

Estava na hora, no minuto, no segundo, no décimo, no centésimo, no milésimo, no avo. Estava no momentum.
Sentiu o impulso incontornável, electrizante, fremente e vibrátil. A memória do aroma e do sabor fez-lhe eriçar os pêlos da nuca e espreguiçar o pescoço de furúnculos adiados e carótidas obscenamente palpitantes. A fronte encheu-se-lhe de gotículas sudantes. Não podia, não conseguia, não queria, esperar mais.
Como uma fedorenta tainha fora de água, de boca escancarada como se lhe faltasse o ar, caiu de borco. A língua saltou-lhe da boca como se fora um camaleão à cata dum insecto. E como um camaleão revirou os olhos em todas as direcções, sofrêgo, em busca da humidade quente. O véu grosso que se opunha ao desejo partilhado foi escorraçado para uma galáxia a 7 000 anos-luz, ali para os lados do braço de Perseu.
A consumação foi lenta e rigorosa. Metódica. Cirúrgica. O tempo eternizara-se. Simplesmente, ou talvez complexamente (quem o poderia dizer?), trombou. Alto e bom-som troaram as trombetas.
Era um magnífico trombeiro!

"Não é para quem quer mas para quem pode" diz o povo.
"Não é para quem quer nem para quem pode mas... para quem sabe!" digo eu, que gosto de dizer coisas...

saber veraneante.

Esta ideia emergiu subrepticiamente no meu espírito quando vinha na camioneta (subliminaridade do tremor, físico e não kierkegaardiano..., causado pelo 'maxibombo'?)

Estava a pensar naquelas pessoas que dizem que conhecem muito bem uma localidade, zona ou região apenas porque passaram por lá meia dúzia de vezes em viagens de férias ou trabalho.
Passaram, olharam à volta e muitas vezes nem sequer pararam para beber um café ou tirar uma foto do sítio ou passear um pouco pelos 'becos', para reparar no tal pormenor insólito ou característico que não vem descrito em lugar algum.
Ou mesmo para dar dois dedos de conversa com os autóctones e conhecer os seus 'seres e saberes' (onto-antropo fundamental à gnose e ao logos).
Mas dizem que o conhecem muito bem...

Conhecer bem um lugar significa ter vivenciado esse lugar, ter lá vivido durante algum tempo (muito ou pouco é subjectivo e mesmo variável no interior da própria subjectividade do 'ego', ou seja, para o próprio 'o muito de ontem pode ser o pouco de agora'...).
Ter 'saboreado' o lugar com a plenitude do corpo e do espírito.
Ter tido emoções, sensações, visões e paixões nesse lugar.
E essas paixões não terem sido fugazes, de passante e de passagem, mas sim profundas e perenes, daquelas que se gravam a fogo no corpo e na alma como uma tatuagem indelével que um dia volta ao pó connosco.

Ocorreu-me que esta ideia pode ser transposta para o intelectual.
Pode-se ter um 'saber veraneante' de uma ideia, de uma área do conhecimento, de um livro, da arte, da ciência, da religião, etc., do que quer que seja que pertença ao universo da cultura e da intelectualidade.

E há tantos portugueses veraneantes da cultura...

terça-feira, março 16, 2004

rir baixinho é opinar...

por vezes quando alguém perto de mim expressa uma hipocrisia, uma falácia ou uma contradição evidente olho para os desenhos feitos de fios coloridos na toalha da mesa, para as nódoas de vinho em torno do copo, para os restos de frango ou carapau assado dentro do prato, para as migalhas deixadas pela fatia de pão, que todos eles me fitam indiferentes à irracionalidade, à incongruência pseudopensante, à anorexia mental, e rio baixinho. às vezes até acontece virem-me à memória os lógicos, os racionalistas, os dialécticos, os realistas e outros mais que muitos houve que tanto esforço fizeram para dar ao mundo uma forma matricial perfeitamente entendível e compreensível e na qual não existisse lugar a dúvidas ou contradições.

Rio baixinho. É a minha opinião sobre a ideia expressa pelo ente des-ente que desentende...

receita rápida para confeccionar um tridente...

em primeiro lugar e antes de qualquer outra consideração ou acção tenha em conta que de acordo com o dicionário, um tridente é um instrumento ou objecto com três dentes. de acordo com esta definição uma pessoa idosa, uma criança ou um animal que só tenha três dentes é um tridente... assim como um alho nas mesmas condições ou um etc.

passemos de imediato à receita:

1. pegue uma fina roda dentada de tamanho médio e seque-a bem seca com um pano que não largue pêlo - pode usar uma das do mecanismo do velho relógio de cuco de parede, herança da sua avó Guilhermina que era casada com o bigodudo tio Albertino que morreu gaseado e maluco na Primeira Grande Guerra na Flandres.

2. com um alicate de pontas de boa qualidade vá removendo os dentes até sobrarem apenas três. pare por aqui senão estraga tudo - muito importante: agarre os dentes firmemente e torça o alicate no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio; se tiver dúvidas sobre em que sentido se movem os ponteiros de um relógio, consulte a edição de Abril de 1934 do Borda d'Água ou, como quem não quer a coisa, pergunte à vizinha mula do 3.º esq., aquela que lhe pediu um ovo emprestado e que nunca mais o devolveu.

3. sirva o tridente num chapéu de palha ou numa frigideira enfeitada a gosto.

4. sugestão do Chef - barre uma tampa de um tacho de alumínio com uma mistura de patè de sardinha com margarina rançosa, coloque o tridente no centro sobre um raminho de coentros, enfeite à volta com beatas de cigarros sem filtro e, se conseguir (talvez num bom mini-mercado chinês), algumas caganitas de ratazana. Acompanhe com um tinto da Bairrada ou com leite magro açoreano.

Bon appétit !

onde está o centro do universo?

o universo é infinito mas limitado.
o seu centro, para ser centro, tem que estar à mesma distância de todos os pontos do seu limite.
ora o limite do universo é a velocidade da luz (até ver...)
nada pode passar para lá desse limite e ele está em toda e qualquer direcção a qualquer distância, porque em qualquer direcção e a qualquer distância esse limite não pode ser ultrapassado.
ou seja, esse limite está mesmo aqui ao meu lado, tal como está ao pé da Lua, de Saturno ou em qualquer outro lugar do universo.
logo o centro do universo tem necessariamente que estar em todos os lugares, em todos os pontos do universo!

o universo é o centro de si mesmo.

fragmento idiota (de ideia)...

uma coisa que os portugueses não conseguem compreender, apesar de estar à volta deles (até nos seus próprios locais de trabalho) e não ser preciso ser 'doutor' para o ver, é que o ser competente numa determinada actividade não implica que o indivíduo o seja em qualquer coisa 'que lhe ponham sobre a secretária'.
e depois temos, p. ex., professores universitários competentíssimos a exercer incompetentíssimamente cargos públicos... e etc...

quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?

Brecht, in memoriam...

a lei fora aprovada quase por unanimidade. e os poucos que votaram contra fizeram-no apenas por isso mesmo. eram do contra.
se já era proibído em transportes públicos, escolas, hospitais e diversos locais fechados, públicos ou privados, agora era proibído também nos locais de trabalho.
alguns meses depois o parlamento aprovou nova extensão da proibição, desta feita referente a restaurantes, cafés, bares, discotecas, snacks e todos os locais de restauração.
não demoraram muito a estender a proibição à rua. ninguém protestou, já estavam habituados.
e todos os condomínios, brilhantemente inspirados, impuseram-na mesmo em toda a área exterior e interior dos respectivos prédios.
as praias, os campos de futebol, salas de bilhar, recintos desportivos, carros, camiões, jardins, parques, rios, lagos, mares, planícies, montes, colinas, montanhas e vales, nada escapou à sanha proibicionista. foi um fartar vilanagem.
o governo fez as polícias instalarem câmaras de vigilância e detectores no interior das residências e das viaturas particulares para garantir que a proibição era total e respeitada. os prevaricadores eram severamente punidos.

nisi credideritis non intelligetis...

despropósito ou era uma vez o Morin...

o homem é o único ser que destrói outros seres da sua espécie, é verdade.
mas é também o único ser capaz de dar a sua própria vida para salvar a vida doutro ser, da sua ou de outra espécie.
glosando alguém que não aprecio nem um poucoxinho: uma coisa me enche a alma de uma estranheza imensa e de uma admiração e de uma veneração sempre novas e sempre crescentes - o céu ainda estrelado e... 'ainda' sobre mim!

segunda-feira, janeiro 05, 2004

morfogénese em lume brando...

Pegou com gestos calmos e lentos na fina e esbranquiçada vela de estearina que tirara do pacote de velas que comprara na véspera no pequeno supermercado do bairro, o 'Super-Ali' do indiano Ali, e levou-a para a cozinha onde cuidadosamente a depositou sobre a mesa como se de um objecto precioso se tratasse. Voltou-se e abriu a porta do armário sob o lava-louça e tirou uma frigideira de fundo anti-aderente que colocou sobre um dos bicos do fogão. Com todo o cuidado colocou a vela na vertical, bem equilibrada e perpendicular, dentro da frigideira. Usando com uma gentileza quase erótica o polegar e o indicador, ajeitou-lhe a pontinha do pavio branco, deixando-a eréctil o mais que conseguiu. Riscou a cabeça vermelha dum fósforo na lixa da caixa de fósforos, o qual explodiu numa chama violenta e viva, e acendeu o fogo gasoso sob a frigideira. Rodou o botão regulador da chama rigorosamente até meio. Não queria queimar nada e a receita devia ser seguida à risca sem omissões ou enganos. Puxou um velho banco de madeira de pinho, levantando-o com o dedo médio enfiado pelo orifício central, e sentou-se a olhar atentamente o processo.

Ali ficou em silêncio a observar placidamente aquela metáfora da morfogénese...