quarta-feira, março 14, 2007

cartilagens

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Há dias às vezes há, era 01 MAR 2007, pelas 15:31 vinha alapado na camioneta 470 da Stagecoach e fiz uma coisa que não tenho o hábito faz o monje de fazer e que consiste em fotografar pessoas desconhecidas sem que elas saibam que estão a ser alvo target do olhar objectivo atento e perspicaz da objectiva da minha máquina fotográfica que escreve com a luz.


É verdade inha desta vez não resisti porque achei às vezes acho que não podia perder um registo assim nem assado.

Um magnífico e grandioso grandiloquente par de velhas peludas orelhas cartilagens e o respectivo invisível mas vê-se sente-se telemóvel que quase parece desaparecer dentro da orelha esmagado pela manápula que se adivinha prenhe de estórias de cumplicidade entre trabalho e luxúria e sabe-se lá onde terão andado entrado mexido...

imagem: © josé antónio - CLIQUE PARA AMPLIAR
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pobreza vs. moda

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Em tempos de antanho, e não há muito, era sinal claro e iniludível de miserável pobreza.

Quantos milhares milhões? de diligentes, encarquilhados, carinhosos, dedos de avós muito velhinhas prenhes, opadas quase a rebentar, de ternura pelos netinhos e netinhas, enfiaram a cabecita dum dedo no dedal e seguraram com firmeza velhas às vezes enferrujadas já tortas agulhas, e no orifício, no cu, destas enfiaram linhas cuspidas salivadas na ponta teimosa em desfiar e com arte de anos, décadas, séculos, milénios, costuraram rasgões assim nas calças, as poucas, muitas vezes tantas vezes as únicas?

Agora não é pobreza não é indigência.
Agora não é sintoma de paupérrima vida.
Agora é MODA.

Ainda bem.

imagem: © 2007 josé antónio - CLIQUE PARA AMPLIAR
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terça-feira, março 06, 2007

a fábula do homem que tudo sabia

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Perguntassem o que lhe perguntassem, ele tinha sempre resposta para tudo.

Afinal, ele era o homem que sabia tudo e que tudo sabia.

Até que um dia um menino pobre lhe perguntou como se chamava e ele... após uma prolongada pausa... ficou boquiaberto sem saber o que dizer.

Girou sobre os calcanhares e afastou-se penosamente a transpirar sob o peso da comoção.

Nunca mais o viram.


imagem: © 2007 josé antónio - CLIQUE PARA AMPLIAR
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