segunda-feira, novembro 24, 2003

uma estória de Natal

Empurraram a figura multicolor de narizinho vermelho e rosto pintado ao longo do corredor cinzento e húmido até à porta de ferro enferrujada, frente à qual se imobilizaram com alguma brusquidão fascizóide.
Um dos dois guardas abriu o ferrolho e empurrou a porta para dentro com força exagerada, o que a fez chiar e bater na parede e ribombar.
O outro guarda empurrou com o comprido bastão a figura multicolor de narizinho vermelho e rosto pintado para dentro do cubículo escuro com violência.
A figura multicolor de narizinho vermelho e rosto pintado tropeçou à entrada, cambaleou, escorregou numa poça de água oleosa e estatelou-se nas lajes de pedra escura como um boneco de trapos.
O guarda fechou a porta e trancou-a com o ferrolho violentamente.
Voltaram-se ambos síncronos para a saída do comprido corredor e sem uma palavra sequer iniciaram a marcha.
Dali a um ano seria novamente Natal.

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