terça-feira, maio 25, 2004

anónimo

Estava eu postado em sossego ao balcão do Sólarika, a beber uma fresquíssima imperial, quando de mim se acercou um indivíduo, rapaz novo de olhar acutilante e camisa de manga curta, que trazia estampado no rosto o nome Karl. Não falou, não me dirigiu palavra, apenas colocou à minha frente sobre o balcão uma folha A4 com um texto impresso. Olhei curiosamente o papel e quando olhei para o lado, ele tinha desaparecido.
Senti, após ler o texto, que o mesmo me tinha sido entregue com um objectivo bem definido: a sua divulgação. E se ele merece ser lido...
É esse texto que aquele Karl 'anónimo' me entregou que aqui reproduzo:

Como Começou a Filosofia

Estava Sócrates ensinando no Parténon, representando o papel de sua mãe, e perguntou a todos seus alunos e discípulos: "Como começou a filosofia?" Ao que Nietzsche respondeu: "Foi com Tales, torna-te o que és!" Ora Kant que sabia de matemática, apoiado por Heidegger, sintetizou: "Foi com Tales, e o seu teorema!" Mas Heidegger importuno reivindicou um pequeno áparte a Nietzsche em surdina: "Mas Tales caiu num poço à procura do que considerava ser O Princípio Supremo de Todas as Coisas," O contínuo que apagava a cera do quadro riu-se e, no papel da criada de Tales, comentou: "Nem viu a Verdade à frente dos olhos," Mas Nietzsche que estava Para Além do Bem e do Mal, com seu sorriso de maioral, reiterou: "Torna-te o que és!" Pelo que Sócrates, a quem o saber incomodava, resolveu pô-lo fora da aula; a Kant, que falava em sínteses estéticas, num canto da aula cheio de imaginação, com umas orelhas de burro; e a Heidegger a varrer o chão do estrado, cheio de poeira metafísica, o que não agradou aos outros três alunos: Descartes, Platão e Wittgenstein. Pelo que ao chegar um aluno que se tinha atrasado, se fez coro: "Todos perguntam pela Filosofia, e ei-la! Santo Agostinho!" Sócrates que nutria uma especial ternura pela Cidade de Deus, logo comentou: "A Verdade! A Verdade! Ei-la que chegou!" Mas Descartes sentiu ciúmes e bichanando a Platão e Wittgenstein: "Querem ver que o mandrião ainda nos leva a Sabedoria?" E claro, como ainda não se tinha inventado a realidade virtual, pronta e sideralmente foi projectada a Verdade; Santo Agostinho resolveu explicar o motivo do atraso: "Prendi-me a Roma, sou um romano, que querem? A boneca era bonita, mesmo muito bonita! Ali na montra… Sabem… Compreendem?..." Sócrates raso e quase a chorar acolheu-o no seu manto e enxugou-lhe as lágrimas; segredando-lhe: "Larga essa cambada de maricas; apalpa aqui as mamas e confessa-me mesmo por onde andaste." O que fez aumentar a tensão na aula; Wittgenstein, Descartes e Platão foram escrever métodos de aferição da Verdade; Nietzsche acabou perdido num lupanar, e Kant continuou de castigo, enquanto Santo Agostinho foi salvo por intervenção directa de Sócrates junto do Parténon. Conta-se que nessa noite, à luz das estrelas, Sócrates chorava e Santo Agostinho suava, até porque fazia calor, redescobrindo ambos como começou a filosofia: Sócrates exortando: "Apalpa-me o cú fundo!"; e Santo Agostinho confessando: "Ai que me afogo! Ai que me afogo!"

ass.: Anónimo.

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