sábado, fevereiro 26, 2005

a frio

Agora mais a frio — literalmente... — chegou o momento de tecer alguns comentários sobre os resultados eleitorais.

O primeiro é a constatação de que eu estava certíssimo quando em 21 Julho 2004 referi a minha 'teoria da conspiração', e em 23 Julho 2004 expus também a minha 'teoria da conspiração 2' e a 'addenda' (ver mais abaixo no blog.)

Os resultados eleitorais demonstram que eu estava correcto quanto à opção tomada por Sampaio — não convocar eleições antecipadas quando Durão 'cavou à francesa para Bruxelas e o país que se lixe'.

Em segundo lugar, o aumento de votos em todas as forças, exceptuando as que estavam no governo, incluindo também a diminuição da abstenção, demonstra cabalmente e sem margem para dúvidas, se as houvesse, que o objectivo do cidadão eleitor foi mostrar a revolta e o descontentamento, a agonia, que sentia em relação à situação político-económica vivida pelo país nos últimos tempos, e penalizar as forças governativas — para quem já esqueceu, que as pessoas têm memória curta: PPD-PSD e CDS-PP.

Em terceiro lugar, preocupa-me a ideia de que o PS 'embandeire em arco' e não perceba, ou não queira perceber, as verdadeiras motivações que conduziram à sua escalada eleitoral e correspondente maioria absoluta, e acredite que tal se deveu a uma verdadeira confiança do eleitorado num projecto de governação que em boa verdade não tem nem nunca teve.

Em quarto lugar, preocupa-me a maioria absoluta — erro tipicamente português de pôr as cartas todas na mão do adversário —, e isso abrir, escancarar, as portas para o PS fazer aquilo que sabe fazer melhor, e a que já nos habituou: concretamente, querer estar bem com todos e, para isso, fazer toda a espécie de tropelias, de cedências à direita capitalista, ao patronato, aos grandes grupos económicos, à justiça (assim, com caixa baixa), aos dirigentes desportivos e aos clubes de futebol, ad infinitum, esquecendo-se sistematicamente dos Trabalhadores (assim, com caixa alta) e dos desfavorecidos.

O que eu pergunto é; quando o PS começar a tomar medidas impopulares — e vai tomá-las, a situação económica para aí aponta —, começar a aprovar leis contra os anseios dos cidadãos de melhoria da qualidade de vida, desatar a fazer cedências inconsequentes ou de péssima consequência, enterrar ainda mais o país — onde está o projecto deles para contrariar essa inevitabilidade? —e por aí fora, tudo isto com o apoio na Assembleia da República dos partidos de direita a somarem-se a uma maioria que nem precisará deles para passar seja o que for, numa situação em que o único travão e garante de consciência será o veto do Presidente da República — por enquanto do lado deles, logo dando poucas garantias nesse sentido; previsivelmente, a continuar assim nas próximas eleições presidenciais, que o PS poderá ganhar... pergunto: o que vão os cidadãos fazer? Lembram-se da dificuldade que foi para demitir o governo maioritário de Cavaco Silva?

Pois é. Aproximam-se tempos de luta. É bom que as pessoas se mentalizem para isso e não cruzem os braços.

Oxalá eu esteja enganado. Não o creio.

FALLOR ERGO SUM

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