terça-feira, junho 08, 2004

elegia

Soube ontem pela manhã. A notícia agrediu-me como uma pedrada, mas sem me surpreender.

A Guida suicidou-se.

Cerca de 36 anos, uma bébe com 3 e, provavelmente um vazio tão infinito que nada era capaz de preencher.
Apenas me ocorreu: a vida é tão insignificante que vale a pena procurar algo pelo qual mereça a pena lutar. A morte é tão certa que apenas basta esperar por ela. Não vale a pena procurá-la, ela acabará por vir, mais cedo ou mais tarde.
A felicidade está dentro de nós. E é no nosso interior que a temos que buscar. Pode ser-se feliz com pouco ou infeliz tendo quase tudo. 'O dinheiro não dá a felicidade mas ajuda' é apenas um mito moderno, uma aldrabice inventada pela burguesia para justificar a luxúria.
É preciso não deixar o vazio crescer e infinitizar-se. É urgente preenchê-lo com algo que dê razão de viver.
Remando contra a maré que é o mundo pós-moderno que com os seus mitos e falsos ídolos insufla o vazio no espírito das pessoas.

A Guida suicidou-se.

4 comentários:

Anónimo disse...

Para a Guida.
Não sei quem eras, como não sei quem são os meus vizinhos do lado. Nem eles sabem de mim.
Tanta gente, Guida, e ninguém para nos dizer: olá, como vai? Diga lá, eu espero... você fala pouco, quase nada. Dantes era tagarela, sorria e descia os degraus dois a dois, quando todos iam de elevador, apressados, enfrentar o asfalto, o ruído, a competição, a desumanidade, o frio que queima, o sol desbragado que assusta e encandeia.
Ninguém reparou na mudança, Guida.
Devias ser dada a depressões cíclicas ou esporádicas. O olhar perdeu o brilho? Tornou-se subitamente baço? Coisas da Guida!... Desde criança era assim. Hipersensível.
Tinhas dificuldade em ser banal, em ser igual em : «Produzir, não resistir/ Pensar? Nem pensar!»
Desculpa, Guida. Porque nunca te conheci. Porque nunca te disse bom-dia. Porque ainda que tenha passado por ti centenas de vezes, eu tinha pressa, muita pressa. E nem sequer reparei que tinhas passado a descer de elevador. Para chegar mais depressa a lado nenhum.
Fica bem, Guida. Em paz.

António Valdemar Oliveira disse...

Não conheci a Guida, pelos vistos infelizmente, mas sei o que custa a perca de alguém próximo.

A melhor homenagem à Guida que posso fazer é saber que foi tua amiga. E se foi tua amiga, é minha amiga também.

Menina Marota disse...

Ninguém pode ficar indiferente...por vezes basta um olhar alerta, um sorriso, um abraço, OUVIR o que os outros, por vezes sem palavras coerentes, nos querem dizer.
Porque todos nós sabemos, todos nós conhecemos, de algum modo nos afectou o suícidio de alguém: um familiar, uma amigo, um vizinho, ou mesmo um estranho.

Não fechemos a alma. Não fechemos os olhos. Não fechemos o coração e ouçamos a voz do desespero, porque essa, anda por aí algures...

Grata por esta homenagem e ainda mais por a teres dado a conhecer.

Beijo

O.

Unknown disse...

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Olá Menina,

Concordo com o que dizes.
Há que estar atento, não virar as costas e ir ao encontro dos outros.

Bjs

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