terça-feira, julho 18, 2006

a siphonaptera


Estava eu posto em sossego... bom, isto é uma maneira muito lírica de colocar a questão postural, que o meu nome não é Leonor, mas seja, estava eu numa calma relativa, sentado em frente à pantalha — adoro esta palavra que me lembra escumalha, limalha ou maralha — do computador, quando de súbito senti um incomum e inusitado movimento por entre os pêlos do meu tornozelo destro.

Eu tinha a porta da varanda aberta de par em par por causa da pesada canícula, que nem de noite nos deixa sossegar, mas não estamos em sezão mosquiteira, pelo que só se podia tratar de outra coisa. De uma coisa que identifiquei rapidamente, é muito ano de prática.

Aquele movimento sinuoso por entre as minhas pobres pilosidades do meu castigado tornozelo direito só podiam ser sintoma da presença de uma pulica da ordem Siphonaptera. Sim, é isso mesmo. Uma malvada duma pulga... coisa de quem tem gato!

Sem grande pressa cruzei as pernas e procurei localizar a celerada, coisa que consegui rapidamente, pois também nisto tenho bastante prática. Depois foi só agarrá-la com as pontas dos dedos, enrolá-la para a entontecer e finalmente colocá-la sobre o tampo da mesa e esmagá-la com a unha. É mais ou menos o mesmo que matar um toiro em Barrancos. Primeiro encurrala-se o gajo, depois anestesia-se o cornudo com umas fintas e no fim dá-se-lhe uma traulitada para acabar com ele!

Acho que se eu fosse a Barrancos e usasse com um boi a minha técnica com as pulgas, a população entraria em delírio e certamente me levavam em ombros e me levantariam uma estátua! É melhor não ir lá...

Depois de esmagada a dita pulica, com a ponta do X-Acto coloquei-a gentilmente - há que respeitar a morte - sobre o vidro do scanner. E fiz três digitalizações, com o intuito de guardar uma imagem do pobre e inocente ser vivo, agora morto, para as gerações vindouras. A 300, a 600 e a 1200 dpi.
Destas apresento aqui a de 600 dpi, que foi a que ficou mais interessante e aproveitável.

Esta pulica safardanas nunca mais chupará o sangue a ninguém! — Zétó dixit.

imagem: © comunicação visual, Julho 2006

Sem comentários: